Hoje é véspera de S.João. Nem parece.
Antes a gente percorria o subúrbio para ver as festas de arraial. E brincava no
quintal de casa ornamentado de bandeirinhas, “passando fogueira”(“S.João disse/
S.Pedro confirmou/que V. vai ser minha comadre/afilhada/madrinha/e o mais quê/que Jesus Cristo mandou”).
Também se soltava balão.
Engraçado: na época as casas, que disputavam espaço nas ruas, tinham telhados
de telha ou sapê. Não se dizia que balão era chamariz de bombeiro. Meu irmão
fazia balões de 3 ou mais gomos. Eu mesmo fazia alguns. Ele caprichava nas
buchas de estopa. Na hora de soltar era aquela gritaria: “Leva S. João..”
E haja foguete. Tinha de pistola
a “estrepa moleque”. E as sortes. Botava-se pedaços de papel numa vasilha de
agua com os ditos.Depois era tirar. E também podia ser uma pescaria perto da
fogueira. Mais superstição em coisas como cravar uma faca numa arvore e ver no
dia seguinte se dava a letra do nome de alguém. Pior era tentar ver a imagem
num vasilhame com agua passada na fogueira. Se não se visse podia crer que não tirava
o ano.
Namoros surgiam em quadrilhas
dançadas no terreiro. Roupas apropriadas fantasiavam gente da cidade em gente
do interior. Um suspiro cultural advindo de índios, escravos e europeus.
Hoje só se sabe do que a data
representa vendo a folhinha. Melhor, acessando um celular ou sei lá que nova
engenhoca. Sumiram os matutos entre os prédios cada vez mais altos. A cidade
dos bumbás, dos pássaros, de tanta festa, sumiu .
E sempre lembro do Mosqueiro
nessa época. Ia ver os bois ou pássaros no Hotel do Farol. Ficou célebre o
Quati. O “caçador”bêbado, respondia a quem perguntava por quem matou o quati.
Ele só conseguia dizer:”-Eu matei o quati porque quis e quem se incomodar que
vá para a puta que pariu”. Um escândalo para as dondocas presentes.O sorriso
das meninas que sentiam um bafo de independência.
Boas lembranças.
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