segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Os Monstros da Universal

Na virada do cinema mudo para o sonoro, Carl Leammle, fundador da Universal Pictures, dono de um circuito exibidor distribuído pelos bairros de Los Angeles, deu de presente ao filho,Carl Leammle Jr, a produtora da empresa. Os filmes que eram feitos até então de forma extremamente barata serviam para suprir as salas de ingresso popular, herdeiras dos “nickelodeons”(cinemas que custavam um níquel de ingresso). Junior foi mais pretensioso. Animado com o sucesso de “Sem Novidades no Front”, rara produção classe A da Universal, que acabou ganhando o Oscar de 1929/30, ele resolveu produzir uma série com base em monstros da literatura. Contratou cineastas como James Whale e Tod Browning e atores despontando como Boris Karloff e Bela Lugosi, e fez “Frankenstein”, “Dracula”, “O Homem invisível”, todos com seqüências, e “O Lobisomem”. Este último foi o que mais puxou dinheiro de orçamento. Atores já famosos como Claude Rains, Ralph Bellamy, Maria Oupenskaia e Warren Williams foram chamados para contracenar com Lon Chaney Jr, filho do ator característico denominado “o homem das mil caras” por tantos papéis que escondiam a sua fisionomia. O filme, dirigido por George Waggner de um roteiro do então calouro Curt Sidomak(mais tarde diretor de ficção-cientifica e aventuras locadas em cenários exóticos, chegando a vir à Belém filmar duas barbaridades: “Curuçu”(1956) “Escravo do Amor das Amazonas” (1957) foi o pior da safra. A lenda cigana de que uma pessoa mordida por um lobisomem, ou homem que se transforma em lobo, vira lobisomem em noite de lua cheia. Claro que Siodmak enxertou elementos nessa lenda, como a bala de prata para matar o bicho. Mas a história, muito pobre, não chegou à quimica dos outros monstros. Melhor foram a comédias que viriam do personagem, de “Um Lobisomem Americano em Londres”e até mesmo a uma das menos ruins da dupla Abott & Costello: “Bud Abott e Lou Costello Às Voltas com os Fantasmas”.
Esta volta ao tema, dirigida por Joe Johnston, revela a picaretagem em torno. O roteiro do primeiro filme já fazia parte do acervo da produtora, e bastou fazer umas mudanças (processo mais barato de tocar o projeto). Passou-se a dar mais explicitude ao filho que vira bicho pois o pai já é bicho e a mãe foi vitima desse bicho. Fica uma aberração moral: marido mata a mulher e um filho, filho mata o pai e quase mata a namorada. O que sustenta a tragicomédia (pois a sangueira dá para rir) é a fotografia de Shelley Johnson com toques expressionistas e a direção de arte de John Bust, John Dexter e Phil Harvey, Essa turma soube pescar um “design” gótico, fabricando um palacete com ares de assombrado e um campo coberto de gelo seco que encobre o que pode do lobisomem aquém da tecnologia moderna.
Os produtores podiam muito bem refilmar “O Homem Invisível”. Mas com humor. Até os outros monstros ganhariam com injeções de riso. Mel Brooks brilhou com o seu “O Jovem Frankenstein”. Hoje em dia, como provou Peter Bogdanovich no seu “Na Mira da Morte”(Targets), os monstros mais assustadores são os assaltantes, psicopatas assassinos, filhinhos de papai que se armam, se dorgam e saem matando adoidado. Os velhos monstros, como diz Karloff no filme do meu xará, pedem penico. O mundo ficou assustador de outro ângulo. Cara feia não mais assusta.
] “O Lobisomem”2010 é um abacaxi vistoso. Só. (Pedro Veriano).

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