terça-feira, 17 de agosto de 2010

Patricia Neal

Patricia Neal morreu aos 88 anos em Massachutts. Fez 68 filmes entre 1949 e 2009. Ganhou um Oscar em 1963 com “O Indomado”(Hud) de Martin Ritt. Viveu dramas angustiantes fora da tela, perdendo dois filhos e sofrendo um AVC que lhe deixou em coma por alguns dias miraculosamente não a deixando com seqüelas.
Eu guardei, com certo carinho, a imagem que deixou no filme “O Dia em que a Terra Parou”(The Day the Earth Stood Still) de 1951 dirigido por Robert Wise. Era ela quem via, apavorada, dentro do disco voador, o ET Klatoo(Michael Rennie) anunciar um discurso que no cinema só teve dois concorrentes gravados na mente dos fãs: o de Chaplin em “O Grande Ditador” e o de Charles Laughton em “Esta Terra é Minha” de Jean Renoir. A diferença básica é que a fala de Klatoo era um “sermão” aos malcriados seres humanos que se digladiam na Terra. Marco não só na ficção - cientifica.
Patricia também ficou nos papéis ganhos em “Um Rosto na Multidão”(A Face in the Crowd), um filme pouco comentado mas um dos melhores de Elia Kazan, e em “3 Segredos”(Three Secrets) também de Wise. Claro que eu coloco estes filmes pela lembrança que deles guardo. Gostava de ver a mulher madura de voz rouca, nada a ver com imagens de “vamps” como as que revistas do tipo Cinelândia usavam em capas. Era a fama pelo talento. E na sua filmografia ficou muita B - Picture, muito que os grandes estúdios não se lançavam a proclamar com gastos em publicidade. Assim ela viu Klatoo no “dia em que a Terra parou”. E eu aos 15 anos maravilhei-me com o que vi numa noite da Festa de Nazaré no finado cinema Iracema. Cheguei a perdoa o cochilo de edição (e Bob Wise era um excelente editor, tendo montado o “Cidadão Kane” de Orson Welles) na seqüência em que, dentro da nave, Patrícia se mexe em planos alternados quando deveria ficar estática observando o visitante do espaço.
As estrelas do tempo em que eu ia muito a cinema (hoje o cinema vem a mim através do DVD) estão se apagando. É a marca do tempo. Mas é justamente o cinema que se rebela contra esta inexorabilidade. As imagens das atrizes estão sempre jovens no que se projeta ou se aciona digitalmente. O tempo não apaga como diz o titulo nacional de um melodrama dos anos 50. Patrícia como tantas colegas estão à disposição de minha memória, checada em cada olhar a um filme gravado.
Frederic March como a Morte em “Uma Sombra que Passa”(Death Takes a Holiday) diz, a propósito de uma roda de fumantes, que os mortais a adoram. Ele não diz que é no cinema que reside esta adoração. O meio de ludibriar a ceifeira.

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