sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Melodrama

Venho de um tempo em que o melodrama era tão popular como os vampiros MELODRAMA OU O DRAMA AÇUCARADO
estudantes de hoje. Lembro de que exibi no Colégio Sana Rosa, só para ver a namorada, que era estudante-interna, a cópia em 16mm de “Amanhã Será Tarde Demais”(Domani e troppo tardi) de Leonide Mogui. Foi mancada, pois o filme pregava a liberdade de alunas oprimidas em colégio religioso. Mas tudo bem: havia o respaldo de um prêmio em Veneza e a presença de Vittorio De Sica(como ator), querido de irmandades religiosas por seu “A Porta do Céu”(La Porta Del Cielo).
No fim da sessão Orlando Costa, pioneiro do cineclubismo no Pará e meu convidado para fazer um debate depois da exibição, perguntou às colegiais qual seu filme predileto no período (1957). Todas: “Sublime Obsessão”. E o ator adorado era Rock Hudson. Impossível dialogar afirmando que Hudson nunca tinha sido ator e que “Sublime...”, por sinal uma refilmagem, eras melodrama da pior espécie.
Mas naquele tempo havia certa franqueza diante da empatia com histórias românticas contadas em cinema de forma linear. Douglas Sirk era um mago. Hoje ganhou o cetro oficialmente (conterrâneos dele, como Fassbinder, alertaram que o cineasta sabia contar suas histórias).Claro que ao eleger Rock Hudson as meninas não sabiam que o galã era homossexual. Contou-me Gilda Medeiros que chegou a tentar visitá-lo num hotel do Rio, junto com Ilka Soares.O cara estava de roupão, deixando que se visse ao fundo um parceiro. Desculpou-se afirmando que “tinha compromisso”.
Mas o que importa é o melodrama. Nunca fui de condenar o gênero radicalmente. Detestava os filmes mexicanos, derivados de boleros, mas aplaudia coisas como “Stella Dallas” de King Vidor ou “Ainda Há Sol em Minha Vida”(The Blue Veil)de Curtis Bernhardt. E isso me leva a Jane Wyman, atriz de “Sublime Obsessão” de Sirk e também de “Blue Veil”, ela que está chegando em DVD na praça com outro melo de Sirk : “Tudo o que o Céu Permite”(All THat Heaven Allows) –e com Hudson.
A atriz, oscarizada por “Belinda”(1949), ganhou Globo de Ouro por “Ainda há sol...”. Foi mulher de Ronald Reagan e chegou a dizer que purgou pecados por isso. Ela era uma espécie de trailler de Meryl Streep. Chorava bem em close. Fez, por isso, poucas comédias (como“Órfãos da Tempestade/Here Comes the Groom, de Capra em 1951). Mas quase sempre convencia. Já idosa ganhou Hudson de namorado por interesse comercial do produtor Ross Hunter (da Universal).
Em DVD eu vi esta semana dois melodramas. “O Medo Devora a Alma”(exibido no Cine Clube APCC com o nome de “Todos o Chamavam Ali”) de Fassbinder, e “Cárcere de Mulheres”de Miguel M. Delgado. Exemplos da diversidade de tratamento do gênero. Com Fassbinder a relação de uma alemã quase sexagenária com um marroquino jovem ,passa bem. O confronto cultural testa o amor. Mas com Delgado o germe da mediocridade que imperava nos filmes-boleros vê-se a olho nu. Sara Montiel ainda não havia casado com o diretor Anthony Mann nem feito “La Vilolera”. Ainda hoje canta. E canta bem. MiCroslava morreu cedo(suicidou-se aos 30 anos). Elas fazem as prisioneiras irmanadas numa tragédia. Choras-se,mas de raiva. Não falta quem diga “ter quiero com toda mi alma”. E um detalhe:não tem bolero. O tipo de filme vingou com “Pecadora”(1948), veiculo para AugustinLara lançar o seu “Maria Bonita”(dedicado a Maria Felix, sua paixão). Houve altos e baixos em mais de 20 anos. Mais baixos. Hoje se vê numa cultura. Sensibilidade deve pedir penico para História.
E é isso. O DVD ensina cinema.

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