domingo, 5 de setembro de 2010

Neste Mundo e no Outro

Peço emprestado para a coluna de hoje o titulo do filme de Michael Powell e Emeric Pressburger que no original se chamou “A Matter of Life and Death”(Um Caso de Vida ou de Morte”), ou, nos EUA, “Stairway from Heaven”(Escada do Céu). É o que posso usar como referencia a “Nosso Lar”(Brasil,2010) uma das estréias da semana nas salas de cinema comercial. Neste filme dirigido por Wagner Assis de um livro escrito por Chico Xavier,está a concepção da vida após a morte segundo os que professam a doutrina espírita.Impossível desligar as imagens do que escreveu entre 1304-1321 o poeta italiano Dante Alighieri em “A Divina Comédia” (o nome original foi “Commedia” ficando o “Divina” por conta de Boccaccio em alusão ao aspecto metafísico). Só que os tercetos(a série de versos) que definem Inferno, Purgatório e Paraíso, etapas que o poeta percorreu atrás de sua querida Beatrice, não ganham, no caso, uma linguagem cinematográfica acima do elementar. Aliás não há Inferno na concepção de “Nosso Lar”. Um quadro semelhante ao Purgatório é mostrado da mesma forma que se viu no filme “Amor Além da Vida”(What Dreams May Come/1998) de Vicent Ward de uma história de Richard Matheson (autor consagrado em ficção - cientifica):almas penam em um mar de lodo, pedindo ajuda a quem passa (como Dante ao navegar no barco de Caronte).O Paraíso é que apresenta diferenças. Mas o que interessa na analise do filme brasileiro em cartaz é o aproveitamento da idéia (argumento) em linguagem cinematográfica. Deixa a desejar não só a direção de arte, que impregna uma arquitetura “futurista” (até com o uso de laptops e ônibus voadores) a lembrar parte do que fazia o inglês William Cameron Menzies em “Daqui a Cem Anos”(Things to Come),como a pressa com que Wagner Assis trabalha as seqüências (a exemplo da visão da família de Andre Luis, coincidentemente reunida quando vista por seu espírito) e principalmente na estrutura das personagens, todas muito esquemáticas, dizendo e fazendo o que se pede no enquadramento (nenhuma chance de estudo dos tipos).
Mas o filme certamente foi feito para um determinado publico e este publico bateu palmas no final da sessão em que eu estive. Volto a frisar que meu comentário não é de critica à concepção religiosa ou filosófica do original. Trato de cinema. E penso que “Nosso Lar”poderia agradar a não-espiritas como agradou “Neste Mundo e no Outro”(não “Amor Além da Vida” que só valeu pelo “décor”, a lembrar várias escolas de pintura). Ali, os autores privilegiavam a sátira sem desrespeitar credos. Tarefa difícil, mas cumprida. O filme, para quem quer saber, foi feito em 1946 e exibido pela ultima vez, no Brasil,em um canal de TV paga há cinco anos. Foi remasterizado por Martin Scorsese e pode chegar um dia ao DVD nacional.

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