sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Romance Gay

Um ator de verdade assume qualquer personagem, que lhe dão para viver em teatro ou cinema. Hoje nem tanto, mas imagino como há 20 ou 30 anos um ator heterossexual faria força para encarnar um homo adiante de câmeras. Ainda mais pelo fato de que, nessa época, o preconceito era grande. Tão grande que atores homos eram pintados de hetero pelos estúdios. Célebres casos são os de Rock Hudson, que chegou a casar por conta da Universal Pictures sendo sempre namorado de rapazes (morreu em conseqüência da AIDS), o de Cary Grant que escondia sua vida privada das colunistas fofoqueiras, e o de Vincent Price, característico em filmes de terror ocultando seus casos com o mesmo sexo, ele que era o intelectual exigente na moldagem de um estereotipo, e muitos “bi” . Chegou a ser feito um documentário sobre os gays do cinema, exibido por aqui no finado Cinema 1.
“O Golpista do Ano”(I Love You Phillipe Morris/EUA,2009), em cartaz nos cinemas locais depois de ter sido lançado em DVD, é o caso típico da liberdade de expressão atual e da capacidade de atores reconhecidamente heteros. Trata de um caso real, o de um advogado trambiqueiro que depois de viver anos como marido exemplar, pai de duas filhas, sofre um acidente e desperta de um estado de coma assumindo a qualidade de homo. Ele começa a fazer falcatruas, é preso, e na cadeia se apaixona por um detento ligado a furtos. Daí em diante o sujeito vive para o amante, aprimorando-se nos trambiques e com isso ganhando status de milionário.
Jim Carrey e Ewan McGregor fazem os namorados. Jim ganhou fama de careteiro em comédias medíocres, mas se firmou como interprete de coisas mais sérias como “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança” e “O Show de Truman”. Ewan eu vi no mesmo dia em que revi “O Golpista...;” fazendo um garanhão que se mete numa agencia de garotas de programa através de um golpista que se diz amigo. O filme, “A Lista”(Deception/EUA,2009), não chegou aos cinemas locais. Eles se beijam ardorosamente em diversos planos do filme dirigido pela dupla John Requa e Glenn Ficarra. Muita coragem recompensada com o fracasso de bilheteria da produção. E não vamos longe: Billy Zane, intérprete de “O Fantasma”(Phantom), versão da HQ de Lee Falk, disse na TV que era gay e o filme desabou. Tinha de tudo para começar uma franquia com o herói das selvas. O próprio Zane não conseguiu mais papel estelar.
Mas o sacrifício de Carrey e McGregor também não compensou esteticamente. O filme tem um roteiro demasiadamente esquemático não sei até quando extraído de um livro escrito por Steve McVicker (este roteiro foi escrito pelos diretores). Não se constrói bem as personagens nem se dá às seqüencias de “vigarices”o tom de humor e o “timing” que existiu, por exemplo, no “Prenda-me se for Capaz”(Cath me if you can) de Steven Spielberg(biografia de um tipo semelhante ao vivido por Carrey). Chega ficar monótono o vai-e-vem do advogado preso com seu colega e bem amado, como tampouco se torna convincente o final, com o tipo se fazendo de aidético e fugindo da cadeia por isso.
Há muitos filmes de bom nível que chegam ao DVD sem passar pelas nossas telas. Elas, em Belém, apegam-se aos blockbusters para faturar. E assim mantêm seu comércio. A variedade seria um desafio e os donos do negocio não se sentem aptos a desafiar com um alto custo operacional. O caso de “O Golpista do Ano”seria uma aposta na popularidade de Carrey e na “graça” de gays carinhosos, ainda um desafio para muita gente puritana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário