Em 1948 Belém foi sacudida por um fato que daria um filme: desapareceu nas matas do Guaporé um tenente que chefiava um grupo militar encarregado de abrir uma estrada na região. O nome dele era Fernando. Muita matéria saiu publicada nos jornais cobrindo as buscas realizadas nas imediações. Um irmão de Fernando, de patente mais elevada, presidiu um ataque a índios que supostamente teriam sequestrado o seu parente próximo. Mas surgiram lendas como o desaparecido ter sido encantado pelo canto do Uirapuru. E mais: que estava na taba de uma tribo chamada Boca Negra. O assunto deu até 3 marchas de carnaval. Isso eu acompanhei com o entusiasmo que acompanhava histórias em quadrinho, seriados de aventuras, e romances da coleção Terramarear.
O interesse pelos mistérios de nossa mata levou-me a acompanhar, também, alguma coisa da expedição Roncador – Xingu com o destaque para os irmãos Villas Boas. Hoje vejo um filme sério sobre esses personagens.
O diretor paulista Cao Hamburger conseguiu dar um toque de documentário ao que fez, lembrando o melhor de um Henry Hathaway nos anos 40. E o trio de interpretes ficou até parecido com Leonardo, Cláudio e Orlando Villas Boas.
Não é um filme definitivo sobre o assunto. Há pressa em contar o máximo. Só o primeiro contato daria um longa-metragem. Mas “Xingu”(Brasil/2012) cobre várias tarefas dos manos, acabando com a criação da reserva que apesar de ser ambicionada por pecuaristas, seringalistas e aventureiros de diversas classes, ainda é o refugio dos donos da terra(ou nascidos na terra pois os indígenas, não só no Brasil, sofreram o diabo desde que o branco chegou aos seus domínios).
Luzia escreveu sobre o filme, mas a analise dela só pode ser lida convenientemente em seu blog. No jornal a coluna foi subtraída como acontece quase sempre. Eu, veterano nesse tom, reparo como hoje se diminui espaço critico dedicado a cinema. Parece que é assunto para poucos, coisa que não seduz leitores. Será que é mesmo? No meu tempo de critico diário em jornal só ouvia reclamação quando o meu texto parecia muito cerebral ao editor (“Lembra que tu escreves para o leitor e não para iniciados”). Mas a reclamação não era procedida de subtração. E não creio que cinema esteja deixando espaço só por exigência de comerciais. Há muita transcrição de jornais do sudeste absolutamente desnecessária. A “cor local” devia ter primazia. Por sinal que devagarzinho perdemos a nossa identidade cultural. Vejam só: papagaio é pipa, gerimú é abobora, ananás é abacaxi, vesperal é matinê, tu é você, e assim por diante. O curioso é que o homem do povo já está assimilando o vocabulário lá de baixo. Podem achar bonito a integração cultural, mas eu prezo minha origem e acho que devia ser justamente o contrário:devia se prestigiar nichos regionais demonstrando a grandiosidade física do país.
Os Villas Boas acharam bem que o índio não devia ser integrado ao mundo dos brancos: devia ser respeitado em seu “habitat” com o seu modo de viver. Uma lição de quem sabe das coisas.
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