terça-feira, 16 de outubro de 2012

Programas

NA FRENTE DAS TELAS “A Entidade”(Fearless) ouve cantar o galo. Tudo o que se passa com o escritor que em busca de ambiente para um livro de sucesso defronta-se com uma lenda macabra é ligado a cinema. Ele vê em filmes Super 8 os mortos e desaparecidos. Uma caixa com esses filmes é o convite para o personagem adentrar no mundo de horror. E ele acaba virtualmente dentro de um desses filmes. Infelizmente o diretor Scott Derrickson rende-se a formula do susto fácil. É o tipo do programa pra ver com a namorada. Cada objeto despencando é um ruído que assusta. E as meninas procuram os braços dos acompanhantes. Medo & amasso fazem a festa. Chance de cinema inventivo desaparece nas sombras das muitas noites da história. E poucos filmes exibem tantas noites... “Os Infratores”(Lawless) lembra os filmes de gangster onde James Cagney reinou. A família de fabricantes de uísque na época da Lei Seca(anos 30) existiu mesmo e o roteiro vem de um livro do neto de um dos traficantes. O público é convidado a torcer pelos bandidos. Aliás, a trama se divide no confronto entre mais e menos bandidos. Fosse aqui teríamos o “uiscão”(posto que temos o mensalão). Mas os 3 irmãos que saciam os bêbados americanos do governo Roosevelt não são parentes de Bonny e Clayde e por isso não morrem no fim do filme. Ao contrário: terminam bem com mulheres e filhos em cenários aprazíveis. Um trabalho de reconstituição de época acima da média, uma boa direção (John Hiklcoat) e atores competentes tiram o resultado da vala comum. “Fausto” de Sokurov é criativo, puxa pela arquitetura dos fotogramas mas é chato. A lenda que serviu ao melhor de Goethe passa na linguagem de cágado do diretor de “A Arca Russa”. Perdoem-me os críticos “profissionais” (eu nunca me considerei assim - nem amador) mas cinema,para mim, é movimento, é filho da Cinemática. Sokurov assim como Tarkovsky,seu ícone, fazem (faziam no caso do último)filmes extremamente contemplativos, lentos, recheados de detalhes que desviam o interesse do espectador. Engraçado é que o canadense David Cronemberg embarcou nessa canoa. Seu “Cosmopolis”(não creio que chegue a estrear por aqui) divaga através de um milionário dentro de sua limusine. Ele quer ir ao barbeiro mas até chegar esbanja filosofadas que lembram aqueles preceitos soviéticos de evidenciar desigualdades sociais. Curioso é ver Robert Pattinson, o vampiro da série “Crepúsculo” no papel “sério” ou de “filme de arte”. Há momentos em que a gente pede que ele volte a cheirar o pescoço da coleguinha Kristen Stewart. Detesto filme chato. Antes eu ainda aturava, pois achava que cinema também era passível de dissertações intelectuais capazes de torrar neurônios. Felizmente me vacinei disso. Meus melhores filmes deste ano começam com “O Artista”, “A Invenção de Hugo Cabret” e “Os Intocáveis”. Os dois primeiros tratam do próprio cinema. Cinema como eu conheci e me fez espectador assiduo.

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