segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Tarzan

Não esqueço uma vez em que fui ao escritório da Aerovias Brasil buscar um filme 16mm com o programador da empresa Paramazon, o já idoso Gurjão (parente distante do general).Ele reclamou o desvio da encomenda argumentando: “-É uma fita de Tarzan, uma fita caríssima....” Eu ri porque sabia que os filmes desse herói criado por Edgar Rice Burroughs eram baratos, feitos em selva de estúdio com bichos emprestados de documentários e a macaquinha que em alguns exemplares era macaquinho. Mas tudo bem: “fita” de Tarzan era lucro certo para o distribuidor & exibidor. Eu curti as “fitas caríssimas” no velho cinema Moderno, ou no Iracema (ambos no Largo de Nazaré). Johnny Weissmuller falava fino e tudo bem, pois pouco falava. Maureen O’Sullivan, que seria mãe de Mia Farrow, era Jane, a companheira que a censura da época permitia não ser casada. Depois passou o útero para Brenda Joyce. E tinha o filho adotivo do casal, o “Boy”(Johnny Sheffield), que depois fez filme sozinho como Bomba (e era mesmo uma bomba). A gente, e eu digo a tropa da minha idade, comprava gibi na porta do cinema e ia torcer pelo “homem macaco” macaqueando nas poltronas sem estofo. O Moderno tinha duas classes (cada uma com um preço de ingresso) divididas por uma tabua sendo a segunda com bancos no lugar das poltronas que representavam o “luxo”da primeira. Foi quando eu vi/ouvi, antes de saber de Marx(o Karl não o Grouxo) uma “luta de classes”. Jogava-se papel amassado e até pedrinhas de uma para outra. Na tela, Tarzan gritava para Tantor (o elefante) salvar quem torcia no seu time ecológico das garras de caçadores malvados. O final feliz era festejado no plano de Cheeta fazendo gracinha com a sua dentadura impecável. Uma festa. Hoje se comemora o centenário do herói de tantas gerações. Burroughs nunca foi à África, começou escrevendo ficção cientifica, e descobriu a mina num espasmo criador pensando em Rômulo & Remo e naquele moleque que Truffaut filmou em “L’Enfant Sauvage”. Ficou rico. Pudera, até na selva amazônica se jurava o mato de Tarzan.Lá pras bandas do Quênia devia ser a mesma coisa. Sem ir ao cenário descrito, o jornalista norte-americano caçou a fera. E marcou gerações. Os moleques tufavam o peito e se diziam tarzans. Eu nunca fui isso (sempre exibi meus ossos), mas gostava dos filmes e livros desse herói. E uma das piadas que mais acho graça é aquela de Tarzan jogando pingue-pongue e pedindo a macaca sua amiga para buscar a bola caída no chão próximo. Quando Cheeta voltava estava um trapo. Toda quebrada. Tarzan, com a fala econômica, aconselhava firme: “- Cheeta, Tarzan disse bola de pingue-pongue não de King Kong”. No também centenário Olympia vai acontecer um programa dedicado a Tarzan. São 6 filmes a serem exibidos na base de um por dia. Todos da fase da Metro (anos 30/40)com Johnny Weissmuller(depois tudo passou para a RKO). Acompanhem (os).

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