segunda-feira, 25 de março de 2013

A Busca

Raquel de Queiroz botou na boca de Alberto Ruschell em “O Cangaceiro”(1952) filme de Lima Barreto, as sentenças: “Quem procura quer acha, quem pergunta quer saber”.No filme “A Busca”(2012) de Luciano Moura o personagem chamado Theo(Wagner Moura)quer saber por onde anda o filho de 15 anos que deixou a casa e se mandou por rumos ignorados.O garoto se encheu das brigas do pai com a mãe e com ele. Mas se ele sumiu pai e mãe querem achá-lo. E o pai, sentindo-se culpado, sai estrada afora perguntando pra saber. O filme não é só a longa viagem de um pai atrás de um filho. Quer ser também, ou primordialmente, um pai se encontrando ou se redimindo com as palavras de Raquel como escudo. E esse “também” é que deixa as brechas do roteiro e escapam para as imagens. Se visto na forma realista o filme é insustentável. Começa com o menino cavaleiro, capaz de cortar estados num corcel preto, ele criado no meio urbano de classe média. Depois há aqueles chavões clássicos das roupas que se enxugam, dos meios de transporte que se alternam com facilidade, dos tanques de gasolina sempre cheios, dos tipos sertanejos saídos de Graciliano Ramos em closes de Eisenstein, até um parto francamente simbólico para mostrar um renascer do improvisado parteiro, tudo isso como um arcabouço ficcional para veicular a sensibilidade do personagem em crise. As licenças de ficção poderiam ser até saudáveis se a alegoria básica ganhasse uma feição explicita. Poderia figurar num tipo de pesadelo, numa visão pessoal que em linguagem de cinema ganharia feições correspondentes. Não me parece crível um aceno realista num drama muito pessoal, muito particular. Seria como Antonioni dirigir um “Roma Cidade Aberta”(sem ganhar aplausos de Ingrid Bergman). “A Busca”só tem uma vantagem: chega numa época em que o cinema brasileiro cerca o publico com o que se pode chamar de neo-pornochanchada. É o que dá dinheiro. Fazer um enredo sério, sem apelar para o espiritismo (outra mina de ouro) é arriscar capital. Penso que o cineasta que se arrisca pergunta depois do lançamento: “E aí, comeram?” Visto assim, o cartaz de agora é saudável. Torço para que o “comam”. Afinal é uma proposta interessante E as imperfeições são relevantes. Eu vi sem consultar meu relógio. Isso é raro.

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