quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Cinema a nu


Sou do tempo em que era ousadia mulher se despir diante das câmeras em produção cinematográfica comercial. Lembro de que fui barrado (mas acabei furando) numa sessão de um filme em que a atriz Françoise Arnoul(ainda viva e ativa aos 82 anos) aparecia de calcinha e em um momento a objetiva levantava e se via que ela estava também sem sutiã.  O filme se chamava “Tormentos do Desejo”(L’Épave), de 1949, dirigido por Willie Rozier. Lembro é da musica que se cantava “Perucha(a personagem dela) fille de la nuit/bien que predit la gitane/ um homme mourir d’amour...”).
Hoje a nudez em cinema é comum. Assim como os namoros passam de um beijo em close para uma sequencia de cama. O fascínio do sexo em segredo virou lugar comum. Mas eu nunca tinha visto em tela grande sexo entre mulheres. Vi agora em “Azul é a Cor Mais Quente”(La Vie D’Adele). E uma das parceiras é linda: Adéle Exerchopoulos, filha de gregos e com uma carreira promissora apesar do escândalo que despertou no Festival de Cannes onde o filme mostrou que Steven Spielberg, presidente do júri, não é moralista como se pode pensar(e pensavam).
               O diretor tunisiano Abdellatif Kechiche, que eu já conhecia de “ Esquiva”, “O Segredo do Grão” e “A Venus Negra”, ousou e deu certo. Mas não ousou à toa. Tratou não apenas de um caso de homossexualidade. Foi fundo na solidão que cerca duas mulheres, mesmo que a idade não aparente ser um tempo propicio a isso. A Adele do titulo não se entrosa com amigas/colegas. Gostar de uma mulher madura é uma opção de expandir sua necessidade de amar. Emma (Lea Seydoux , neta de um pioneiro da Pathé, empresa de cinema francês e uma das primeiras no mundo) já vê a dificuldade de relacionamento de outro modo. Está mais perto do quadro típico de solitária. As duas se entendem e se amam. O que o diretor escorrega é na prolixidade das sequencias de sexo. Não havia necessidade de tanto para medir o que as personagens sentem (e fazem). A prolixidade desequilibra o ritmo e o filme se estica demais(quase 3 horas). Mas é um exercício de cinema introspectivo muito interessante.
               Sexo explicito se acha também em “O Lobo de Wall Street”. O veterano Martin Scorsese, uma das pessoas que mais ama cinema nos EUA (ele é quem está remasterizando filmes em vias de extinção), lembra o colega Stanley Kubrick na sequencia em que varias pessoas fazem sexo num salão(“De Olhos Bem Fechados”). Mas isso não devia faltar na pintura da orgia que cerca os tipos de corretores ilícitos. O filme é bom e Leonardo diCaprio dá um banho de interpretação. Pena que este ano ele perca (talvez seu Oscar)para Matthew McConaughey em “Clube de Compras Dallas”.Por sinal que este ator rouba “O Lobo...” no pouco que aparece contracenando com DiCaprio. Emagreceu e cresceu. Está longe de bobagens que andou fazendo e até mesmo do namorado de Jodie Foster em “Contato”(filme que particularmente eu gosto e até mais do que o livro original de Carl Sagan).
               O cinema moderno nada esconde. Se por bem ou por mal depende dos argumentos filmados.

2 comentários:

  1. Dr.Pedro sempre tive uma curiosidade, qual foi a primeira cena de nudez feminina no Brasil, não me refiro a cena da atriz Norma Benguel em Os Cafajestes , mas vendo um programa sobre cinema brasileiro , apareceu um materia sobre uma atriz que tirava roupa e a cena era mostrada através da sombra dela

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  2. Deve ter sido Elvira Pagã. Alias em termos de sombra tem muita gente aparecendo. Os puritanos policiavam os filmes.

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