domingo, 11 de janeiro de 2015

Brincando de filmar


            Nos anos 50 existia em Belém um grupo de cineastas amadores. Filmar era um brinquedo domestico da classe média. Geralmente o tema era uma festa em família. E eu, aos 13 anos, experimentava uma filmadora 16mm de marca Bell Howell para 50 pés de película disposta em um magazine, presente de aniversário de meu pai. Naquela época (1951)eu era só “exibidor”. Tinha um projetor sonoro marca Revere e exibia filmes na garagem de cada. Era o Cine Bandeirante, atração da vizinhança que paga 2 cruzeiros de ingresso nas sesões. Os filmes de longa metragem eram alugados de firmas comerciais e na bitola estavam muitos títulos lançados nos cinemas. O 16mm foi um recuso para os soldados na 2ª.Guerra vissem cinema em acampamentos.
            No mesmo dia em que eu ganhei a filmadora, 9 de agosto, focalizei o pessoal de casa.Na semana posterior inventei uma historia aproveitando o que se brincava com Mario Campos, exímio violonista, afilhado de meus pais. Surgiram os filmes “Um Caso Difícil e “O Grande Lutador”. Rodava em película positiva com poucos conhecimentos de fotografia. A revelação era no Rio. Como não dominava o jogo de luz,usava sempre filme de média sensibilidade com o diafragma da filmadora fechado em f-11.Vale dizer que o sol era o modulador das imagens. Nada de interiores. E nada de edição. O corte era na hora com a ligação de sequencias em cronologia.  A medida prosseguiu em filmes posteriores até o fim da década quando, conhecendo Fernando Melo(cameraman dos filmes de Libero Luxardo), dono de uma oficina onde consertava o projetor e revelava filmes, passei a ensaiar filmagem interior, sem spot. E uma vez só usei filme negativo e montagem em copião.
            “Brinquedo Perdido”, de 1962, já era de uma fase que posso chamar de “avançada”. Mesmo assim, rodado em positivo e sem edição posterior. Uma ginástica agora com câmera Paillard-Bollex para 300 pés (rolo).
            O filme seguiu “O Vendedor de Pirulitos”, de 1961. Fazia cinema experimental em termos técnicos. Fernando se admirava de minha ousadia. No tempo só fiz um Supe8 que era a moda entre os amadores.  Daí só no VHS em 1988.
            É curioso rever agora “Brinquedo Perdido” e também “O Desastre” feito dez anos antes. Os filmes sobreviveram a uma remessa para o MIS local e a umidade ambiente. Hoje estão em DVD e ganham até sessões publicas coisa que jamais pensei na juventude.
            Agradeço ao Marco Antonio a programação dessas raridades no Olympia. Se me dissessem que meus filmes estariam na tela centenária da cidade eu não acreditaria. Cantaria a marcha carnavalesca “a cigana se enganou”

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