terça-feira, 26 de março de 2019

Nós


Jodan Peele o cineasta que fez “Corra!” e andou ganhando prêmios pela ousadia de uma amostragem menos trivial do racismo nos EUA, voltou com muito mais abrangência em “Nós”(Us), filme não à toa assim chamado.
Logo no inicio legendas tratam de tuneis existentes nos EUA e que muitos já perderam identidade por anos vazios. Daí se passa para uma parque de diversões onde uma garota negra  saia de perto dos pais e envereda por uma sala de espelhos onde vê uma imagem que pode ser o seu reflexo mas que apresenta atitudes pessoais (dela, imagem). Anos depois, a menina já mãe de um casal de filhos vivendo com o marido boa praça, recusa passar as férias na mesma praia  (a do parque) por onde andou na época do espelho. Mas a perseverança do marido ganha e a família vai ao cenário. Ali, em uma noite, vê surgir defronta da casa onde está hospedada, outra família, no caso cópias dela mesma,  das três personagens com apenas detalhes que se vai conhecer quando invadem o ambiente: a mulher usa tatuagens, veste vermelho, e um o filho abusa de mascara branca, contrastando com o garoto da casa que usa uma de monstro.
Começa uma batalha pela supremacia. Os visitantes seriam o lado mau das criaturas. E nessa luta que assume a face de filme de terror & aventura, acaba mostrando que as imagens “más” estão dominando a cidade, dizendo apenas, em uma vez, que “somos americanos” (e citando um versículo bíblico- de Jeremias). De uma feita a mãe (excelente Jupita Nyon) procura seu garoto que sumiu do carro onde estavam fugindo do lugar, e entra numa sala de aula subterrânea onde uma personagem de professor conta a historia da dicotomia que sempre existiu e que no momento a face má quer assumir a chefia do mundo. Não à toa se vê dezenas de figura trajando vermelho, de mãos dadas, adentrando a praia. E na areia casais mortos (a maioria de brancos). Nessa hora a mãe (Lupita) briga e mata a “outra”. Acha o filho e de volta ao carro da família (já uma ambulância) . As ultimas tomadas não são conclusivas na historia. Afinal, o “mal” persiste e hoje está bem vivo na politica mundial, especialmente  na Era Trump.
                Mr. Peele conseguiu fazer um filme denso com embalagem comercial capaz de faturar mais e US$60 milhões na primeira semana de exibições nos cinemas americanos. E o fez de forma tão sutil que as lebres engoliram os gatos –e não à toa, no enredo, os maus comem coelhos.
                Nada é de graça em “Us”. Nós somos as vitimas de nós mesmos desde que fraquejemos voltando ao cenário (bem amplo) de nossas piores lembranças. Afinal uma lição de historia: assim como os tuneis fantasmas os americanos vivem rodeando os espaços que o passado sabiamente deu a esquecer, ou seja, ao pior que escondem em si.
                Há muito a ver nos entre planos do filme. Raridade que promove um cineasta inteligente.

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