“Yesterday” parte,
através de um roteiro imaginoso de Richard Curtis, para uma premissa que lembra
“A Felicidade Não se Compra”(It’s a Wonderful Life):o que seria no mundo se os
Beatles não tivessem existido. É assim que o modesto compositor Jack (Himesh
Patel) passa, depois de um acidente, a pensar e usar as musicas do conjunto
inglês como suas, alimentando a paixão que tem pela modesta funcionária Ellie
(Lily James) .
O fato se dá
na forma de um cataclismo com as luzes da cidade apagando por breve instante. E
não é só o apagão dos Beatles mas até da Coca Cola. Isso não quer dizer que a
vida em Liverpool prossiga normalmente e Jack vire um ídolo tocando algumas das
principais canções do conjunto que marcou um tempo.
A idéia de
mostrar um cenário sem um ator principal não é nova mas sempre funciona. Pena é
que a direção de Danny Boyle (“Quem quer ser um milionário”) não vá fundo
nisso. E deixe furos, mesmo quando assina a fantasia e mostre o modesto
compositor visitando John Lennon e vendo o Beatle com mais de 70 anos quando se
sabe que ele foi assassinado aos 40. Seria um aceno poético que a narrativa não
acompanha. O enredo acha melhor focar o romance de Jack com Ellen e marcar a
cena em que ele confessa ser usurpador dos Beatles (dizendo quem é quem) e
abandonando um palco adiante de multidão para ir ao encontro da amada que por
sinal já está trilhando um caso com outro homem.
O “esquecimento”
dos compositores que marcaram uma época não ganha a dimensão que se podia
achar. A musica dos Beatles impulsionou o rock e alimentou uma geração que demoliu
velha arquitetura moral e impulsionou a criatividade não só no terreno musical.
Como está no filme, trata-se apenas de um veio de compositores & canções
que logo agrada a quem passa a conhecê-lo, trocando Coca Cola pela concorrente Pepsi Cola
e indo tudo bem num mundo sem graça (aliás não se espelha isso: todas as
personagens vivem alegres num cenário que parece não sentir falta de quem compôs”Yesterday”e
tantas outras joias da musica popular de um tempo -e ainda hoje lembrado).
Seria
interessante se o filme, seguindo a opção de apagar um episodio do passado
mostrasse como isto fez falta ao presente e se as ideias apagadas permanecessem
no ar experimentabdo o gosto da fama que viria embalado por uma licença poética
moderna . No caso de “A Felicidade...” a vida sem George Bailey era colocada
num mundo reacionário onde uma boate viraria um cinema exibindo “Os Sinos de
Santa Maria”. Não é bem virar da esquerda para a direita mas uma concepção de
liberdade através de gerações com os modelos seguindo acontecimentos que marcam
tudo e todos.
“Yesterday”
é um filme instigante como um jogo em que se deixa a bola cair no meio do
campo. Uma pena. Poderia ser tão bom quanto as canções evocadas.
Moro em Recife. Onde assisto este filme? Não encontrei em cartaz na minha cidade
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