Muita gente falou do centenário de Joseph Losey, o diretor de cinema americano que a Inglaterra herdou depois do “maccarthismo” (ele fugiu da raia, pois seria preso como comuna-e não era). Mas ninguém badala a mesma idade de Marcel Carné e Elia Kazan. O primeiro, depois de ter feito obras-primas como “Os Visitantes da Noite” (Les Visiteurs du Soir/1941) e “O Boulevard do Crime” (Les Enfants du Paradis/1943) foi detratado pela turma da “nouvelle vague” como “um velho metido a jovem”. Isto porque Carné retratou a juventude francesa do pós-guerra (a 2ª. Mundial) no seu “Os Trapaceiros”(Les Tricheurs/1950). Aliás, os nouvellevaguistas crucificaram não só Carné, mas Jean Dellanoy e Claude Autant-Lara. Parece até coisa de gente daqui...
Kazan manchou o currículo delatando colegas para a Comissão de Atividades Anti-Americanas presidida pelo senador Joe McCarthy, o nome que entrou para as enciclopédias como sinônimo de intolerância, fomentando uma “caça aos comunistas”, tão ridícula como o nome que recebeu dos espectadores na época (anos 50): “caça às bruxas”.
Mas os que pregaram Kazan não fizeram o mesmo com outro dedo-duro: Walt Disney. Ninguém jogou na fogueira Mickey e Pluto, e muitos que atacaram Kazan levaram os filhos para passear na Disneylândia.
Nos seus últimos dias de vida. Kazan recebeu um Oscar honorário. Foi à cerimônia de entrega. Uma parte da platéia (a maioria) o aplaudiu de pé. Outra tentou uma vaia. Mas a História existe e não pode ser ignorada. A história de um cinema de bom nível quando isso era coisa de poucos produtores (como Stanley Kramer).
OK, Kazan gostava muito mais de teatro e ensinou muitos meninos do Actor’s Studio. Mas nenhum livro de história do cinema que se preze ignora “Sindicato de Ladrões” (On the Waterfront), “Uma Rua Chamada Pecado”(A Streetcar Named Desire), “Boneca de Carne”(Babby Doll) ou “Vidas Amargas”(East of Éden).
Eu acrescento aos melhores filmes de Kazan coisas hoje esquecidas como “Pânico nas Ruas”(Panic in the Streets) , “Um Rosto na Multidão”(A Face in the Crowd) e o brilhante e autobiográfico “Terra do Sonho Distante(América, América).
Os espaços da ACCPA devem abrir para esses dois ícones da cinematografia. Desconhecê-los é seguir o papo furado de alguns membros da “nouvelle vague” que achavam o cinema uma arte esclerosada e pensavam em refazê-lo como uma criatura do Dr. Frankenstein. (Pedro Veriano)
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