segunda-feira, 5 de outubro de 2009

E O OSCAR ?

E O OSCAR ?

Vi “Salvo Geral” o nosso candidato a candidato ao Oscar de filme estrangeiro. No tempo em que o Brasil toma banho de otimismo, sediando as próximas Copa do Mundo e Olimpiadas, seria até previsível que a premiação norte-americana chegasse. Mas se eu conheço a história dessa premiação, creio, sinceramente, que o filme de Sergio Rezende vai sobrar. Oxalá esteja dando uma de mau profeta. Mas não creio que os acadêmicos de Hollywood aplaudam uma espécie de “duro de matar paulista”.
O filme revela um equilíbrio artesanal de quem já possui cacife de cinema-industria. Tem explosões de carros, corridas desenfreadas, planos de multidão, coisas que dão trabalho e exigem segunda unidade de direção. E nem se fala na técnica, no esmero fotográfico, no audível som direto, na edição que sabe dar ritmo à narrativa. O problema formal esbarra apenas nos diálogos improváveis (eu sei disso, pois fui médico de presídio durante 9 anos), num roteiro sectário que pinta bons e maus de forma bem distinta embora em posições “politicamente incorretas”, e na preocupação primordial desse roteiro para com a ação, baixando a densidade temática.
Mas é no recheio do bolo que está o problema. Os filmes sobre presos geralmente optam pela deificação destes em relação ao aparato policial. Fato internacional, a lembrar, a titulo de exemplo, “Alcatraz” de Don Siegel e “A Colina dos Homens Perdidos” de Sidney Lumet. Nem vou ao “Candiru” de Hector Babenco, onde o enfoque de uma rebelião ganha foros jornalísticos. Aqui, em “Salve Geral”, inspirado no levante da PCC em 2006, uma guerra que abalou S. Paulo, o gancho é a mãe recém-viuva que vê o único filho detido e tudo faz para libertá-lo. Nesse tudo está o contato com a cadeia, a vez de advogada que ela é e nunca exerceu, um atendimento ao sexo que não parece muito crível (ela resiste fumar, beber, cheirar droga mas não resiste a um prisioneiro que, em tese, seria contatado pelo prestigio que possui na prisão), e um modo de ficar com o dinheiro da gang interna (do presídio) e com isso pagar a liberdade do garoto molhando (melhor diria “afogando”) as mãos dos guardas.
Os detentos são vistos como pessoas esquecidas da sociedade e dos governantes. Numa hora um deles consegue sair da cela (com uma facilidade impressionante, pois não se vê um só guarda nos corredores anexos) e fazer um discurso sobre movimento revolucionário. Noutra, os chefes do PCC, que no filme ganha o nome de “partido”, é contatado pela direção do presídio que com isso pretende formular um pacto de não agressão (nessa altura a cidade está pegando fogo). Como essa gente “conferencia” com as autoridades, esbanjando ironia (para não dizer cinismo), é o xeque-mate na reposição dos heróis e vilões (bandidos são heróis, policiais são vilões). O fator tempo é desprezado na constante alternância de seqüências em que se vê coquetéis molotov explodindo nos bairros paulistanos e o “papo” com os chefões se arrastando em mesa.A conclusão que se tira, até pelo fato do acordo dar certo, é que realmente os homens atrás das grades possuem razões que a razão (ou a lei) desconhece. Completando o quadro, a mãe consegue libertar o filho, embora não se saiba até quando. O filme termina com o abraço materno, a lágrima filial, os dois seguindo de carro estrada afora. E o currículo deles já engrossa com duas mortes para ele e uma para ela.
Há desempenhos que impressionam. Denise Weinberg como uma advogada corrupta que arma a revolta dos presos (ou ajuda a isso) aponta bem a sua autoridade nas falas impressivas e na máscara correspondente. Quando ela ataca a amiga (Andréa Beltrão esforçada num papel esquemático), sabendo que esta deseja apenas libertar o filho, não hesitando em se apropriar da verba que daria outro andamento ao plano dos revoltosos, a cena é de filme de terror norte-americano (ela passando um garrote na comparsa e só não consumindo o enforcamento porque esta tira do bolso um revolver e atira). Por sinal eu saio do parêntesis e pergunto: como uma modesta professora de piano, aparentemente pacifica, sabe manejar arma com tanta desenvoltura ? Como uma pistola fica engatilhada no bolso da saia de quem, em tese, não é de atirar ?
O roteiro está cheio de licenças dramáticas. Mas tudo é perdoado quando a clareza do objetivo é bem defendida. Não é o caso. No geral, “Salve Geral” é um “divertissement”, um “blockbuster” falado em português. Com isso eu penso que os sócios da Academia de Hollywood vão cair de amores por concorrentes mais exóticos, mais distantes dos modelos que eles usam e abusam. Se premiarem um exemplar latino de uma formula anglo-saxã as coisas estão mesmo mudadas. Será que o filme vai faturar prêmio porque é a da terra governada por Lula, o nosso Polyano(ou Frank Capra)?....

Nenhum comentário:

Postar um comentário