“Lula, O Filho do Brasil” (Brasil,2009) baseia-se no livro de Denise Paraná, um best-seller que fez muita gente derramar lágrimas. O roteiro de Fernando Bonassi (que fez o de “Cazuza” e “Carandiru”) ganhou um tratamento de superprodução nos moldes nacionais, com uma direção de atores a cargo de Cibele Santa Cruz, uma direção de segunda unidade(Claudia Castro) e uma senhora equipe de tecnica. Quer dizer, Bruno Barreto,o diretor, tratou de ministrar as seqüências para que a edição, chefiada por Alexandre Palo, trabalhasse. Mesmo assim, mesmo com todo esse cuidado, o filme não emociona nem esgota o assunto.
A história do atual presidente é potencialmente emocionante. Menino pobre do agreste, viaja 15 dias de “pau de arara” para Santos seguindo uma carta forjada do irmão em nome do pai, e na terra da garoa passa sérias necessidades, valendo-se da coragem e persistência da mãe, dona Lindu (Gloria Pires), que chega a desprezar o convite de uma professora em ficar com o garoto por adoção e persistir, por sua conta,na tarefa de instruí-lo, levando-o ao SENAI onde ele cursa a formação de torneiro mecânico.
O roteiro escorrega no mesmo chão liso que fez escorregar tantas cinebiografias.Tudo é estereotipado, com personagens bons e maus sem hiatos de duvidas ou transgressões. E o tempo cronológico é acelerado com vistas ao lado sentimental da trama, pouco dizendo de como o jovem Luís consegue ser um orador fluente, um político “nato”. Essa faculdade de se expandir em discursos populares é jogada sem qualquer análise. É como se o ato de reclamar desmandos de seu sindicato fizesse de Lula um reivindicador capaz de comunicar as suas idéias com multidões em falas que emocionam mesmo que não sejam embasadas em termos técnicos (como econômicos). Um prodígio de intuição que não se mostra na gênese.
A lição do roteiro é de que a vida forja o herói. Mas como forja? Imagens do jovem operário que se casa e perde a mulher durante o parto de seu primeiro filho, depois o conhecimento, namoro e casamento com outra mulher, são detalhadas enquanto não se toca como o sindicato dos metalúrgicos no tempo de ditadura militar começou a ser oprimido, como os operários foram chamados de comunistas numa generalização que levava muita gente aos porões do DOPS e suas torturas, enfim como as reivindicações salariais começaram a ser tratadas seriamente, ensejando a histórica greve do ABC paulista, fato que estremeceu o governo Figueiredo. Resumindo, como foi a história do Brasil nos anos 70/80.
Tudo no filme é simplificado ao extremo. Não fosse a concorrência de atores competentes como Rui Ricardo Dias, que faz o Lula, a coisa se encaminharia para um melodrama em que a política seria um elemento de construção e não um episódio histórico.
Mas apesar desses pesares, “Lula, o Filho do Brasil” é o melhor que fez o diretor Fabio Barreto. A mim pareceu melhor do que o seu “Quatrilho”, candidato a Oscar. O que machuca é que o assunto renderia muito mais. E sem pressa. Por que fazer o filme agora? Não seria melhor esperar mais um pouco e tratar de Lula depois de deixar o Palácio do Planalto? Assim não seria preciso o prólogo em que se jura não ter sido empregada nenhuma verba de entidades oficiais na produção.
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