quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

SHERLOCK E SPUTNIK

Sherlock Holmes, o detetive inglês que deduzia o criminoso pelo faro, tinha mais vidas do que o gato. O primeiro satélite artificial, o Sputnik soviético, teve vida curta, mas deixou longa e proveitosa marca. Holmes surge hoje numa feição mais atlética do que o tipo imaginado por Sir Arthur Conan Doyle.Mas antes disso, como os seguidores de Joe Shuster e Jerry Siegel fizeram com o Super Homem (Superman), ele morreu pelo menos duas vezes (Doyle o matava se arrependia, e o ressuscitava, assim como o “Homem de Aço” dos quadrinhos). Robert Downey Jr, bom ator a mostrar versatilidade em gêneros diversos que abraça, dá um recado divertido do herói inglês. E o faz até mesmo tentando falando como os súditos de S. Majestade, afinal uma tarefa que ele cumpriu fazendo “Chaplin” (a cinebiografia do criador de Carlitos). Claro que em 2009 o vilão não pode ser Moriarty, o professor diabólico encontrado na literatura. Não que o despreze. Ele é citado no final do filme como uma estrela do banco de reserva. Quem domina a cena, ou melhor, inferniza a vida de Holmes e do neo Watson (Jude Law), muito diferente do tipo que se imaginava lendo e se via nos filmes antigos como um homem de meia idade e um tanto obeso, é um aristocrata engenhoso que a seguir os ambiciosos colegas de aventuras mirabolantes quer dominar o mundo (“na marra” não no apogeu econômico ou na propaganda).
Ritchie, o marido de Madonna (não sei se ainda), nunca foi de fazer cinema cabeça. Faz o que antes de chamava de “fita de porrada”. Aquele seu “...Canos Fumegantes” era um festival de balas e caras feias. “Snatch” idem. E no hiato das pancadarias e tiroteios sabia ouriçar a turma que dá o prêmio Razzie, o criado pela faixa irreverente da critica americana para representar os piores do ano. Agora, em “Sherlock Holmes”, ele consegue fazer com que se passe duas horas numa sala cheia e nem sempre confortável sem olhar para o relógio (o meu termômetro para um filme chato).Como nunca fui tiete das histórias de Doyle quando adolescente, posso dizer que me diverti. Luzia, ao meu lado, mais leitora de aventuras policiais desde a revista X-9, ria pras paredes. Papo animado à saída.
E o Sputnik ressurgiu num documentário exibido na TV de assinatura: “Sputnik Mania”(EUA/2007) de David Hoffman. Vendo-o mudei meu modo de entender o governo Eisenhower. O então presidente americano resistiu à sedução armamentista causada pela idéia de que o satélite russo era um espião e/ou um portador de bomba atômica. Disse, entre outras coisas, que um tanque custa mais do que algumas escolas e bombas desviam dinheiro de alimentos.Além disso, criou a NASA e fez questão de tirar os militares dos projetos espaciais entregando-os aos civis (fato que Von Braun, o cientista alemão que criou a bomba V2 matando muita gente em Londres, não gostou – ele que já trabalhava nos EUA) Um ano depois do lançamento do Sputnik, conversando com Krushev , o premier russo, Ike soube de que lá, na URSS,diziam o mesmo a ele, ou seja, pensavam que o Vanguard e outros satélites norte-americanos eram veículos para aquecer Moscou. O papo só fez esfriar a guerra que já era fria (pelo menos até os russos, ainda comandados por Krushev, tentarem colocar mísseis na Cuba de Fidel, quando o governo dos EUA já estava nas mãos de John Kennedy).
Realmente o primeiro satélite lançado pelos homens mudou o mundo. Começou a chamada Era Espacial e hoje, se ele não tivesse saído dos planos dos cientistas, não teríamos, por exemplo, TV e tudo o mais que viaja do espaço para dentro de nossas casas trazendo informações. Não haveria essa marola de conforto que, inclusive, produz este blog.
Eu acompanhei esse parto espacial. E foi tão falado que o cinema brasileiro se alimentou dele no divertido “O Homem do Sputnik”( Brasil/1959) de Carlos Manga.Ali a bolinha russa caía no quintal de Oscarito. Ele, um caipira, era casado com Zezé Macedo. Havia uma fala hilária: Oscarito saindo de casa à noite, com chuva, para ver o que aconteceu no galinheiro, e Zezé reclamando que vai ficar sozinha. Ele pergunta: “- E daí?” E ela: “-Podem me roubar, ora...” E ele, baixinho: “_Deus te ouça”.
A garotada só falava em viagens espaciais. A ficção-cientifica dava pulos, saía dos orçamentos de mendigo para produções classe A. Nesse tom só um filme disparou antes: “O Planeta Proibido”(Forbideen Platet/ EUA,1956) que revi esta semana em DVD. Bom demais. E deu-me vontade de programar as “sci-fi” de antes de “200l”(o filme de Kubrick). Mas isso é outra história. Por ora, Holmes e Sputnik estiveram na minha semana. Boa companhia em inicio de ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário