quinta-feira, 8 de julho de 2010

Entre Ogros e Vampiros




Depois de quase 60 anos Belém volta a ver filmes em 3D nos cinemas. Isto quer dizer que uma das muitas garotas que suspiram pelo namorado vampiro pode esperar roendo as unhas que Robert Pattinson, o ator da série “Crepúsculo”, saia da tela e vá sentar ao lado, ou, quem sabe, sair para um programa como aquele tipo que Woody Allen apresentou em “A Rosa Púrpura do Cairo”.
O filme que reapresenta o 3D ao nosso público chama-se “Shrek Para Sempre”, a quarta exposição do ogro simpático que na primeira vez ia para a privada com livros de Grimm ou Perrault para usar como papel higiênico. Os piratas de plantão de há muito vendem o filme em seu modesto 2D. Na história, o herói entra numa crise de identidade e urra pela sua espécie de ogro macho. Bolas para Fiona, a esposa, para os 3 filhos, para a vida burguesa que lhe deram. Faz um contrato maroto com um vigarista e pela liberdade dá a ele um dia de sua vida. O sujeito escolhe a data de nascimento do ogro. Vale dizer que ele não nasceu. E se não nasceu, não tem mulher, filhos, preocupações domésticas, enfim, o que desejava, naquele momento, não ter. Mas com um detalhe: se terminar o dia e ele não conseguir receber um beijo de amor como personagem de conto de fada padrão, simplesmente morre. E o jeito é perseguir Fiona, que não sabe quem diabos ele é, pensando no beijo que mesmo que lhe dê reprise da rotina é a salvação da espécie.
Os autores do roteiro até que deram tratos à bola. Claro que eles não saem para uma partida com os colegas da PIXAR, empresa que em termos de animação está levando crianças e adultos às gargalhadas e às lagrimas (a boa formula chapliniana de fazer cinema). Mas foi um avanço. E este avanço dispensa o relevo das imagens. Em qualquer das formas de projeção o desenho é divertido. Se vai ganhar mais um episódio só a bilheteria pode dizer. E pelo que eu pesquisei deve ir. Shrek não é príncipe encantado, mas até por isso ganha pontos no mundo de hoje, quando a beleza física está em escanteio. Isto lembra os vampiros e lobisomens de “Eclipse”, o apêndice de “Crepúsculo” que está levando as meninas ao delírio. Hoje um filhote de Dracula e um parente de cachorro são mais queridos do que os bonecos do passado, do Valentino que as bisavós amavam por conta da vaselina nos cabelos, as vovós aplaudiam com a cara de pau de Rock Hudson, e as mamães adoravam bastando o galã ser cabeludo migrado de Woostock e tocar guitarra. Como critico de cinema dou os parabéns às gurias. O vampiro e o lobisomem ganham de sola os canastrões do tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça. E como eu nunca fui fã de rock (nem do Hudson nem do ritmo), prefiro mesmo a graça do ogro, aquilo que os nórdicos vêem como “bicho papão”, respeitando, é claro, o papão do futebol paraense.

Um comentário:

  1. Prezado Pedro,

    Suas opiniões demonstram o acúmulo de informações sobre cinema que você tem criado ao longo do tempo. Entre leituras sobre a linguagem e a teoria do filme aos velhos manuais de história e técnica de cinema a cada texto que você produz evidencia-se essa grande bagagem. Parabéns. Lulu

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