sexta-feira, 16 de julho de 2010

Teatro Filmado

Dois filmes saídos de peças de teatro chegam ao DVD para testar a memóriade quem já os conhecia: “Sua Esposa e o Mundo”(State of Union/1948) de Frank Capra e “A Rosa Tatuada”(The Rose Tatoo/1955)de Daniel Mann.
“Sua Esposa...” foi mal recebido na estréia e não mudou de cotação com os anos. A dupla Spencer Tracy & Katherine Hepburn, namorados perenes à frente e atrás das câmeras, serviam ao diretor das gostosas comédias sociais para uma intriga resolvida em gabinetes de políticos onde um candidato em potencial do Partido Republicano testaria a sua capacidade de ser infiel à mulher e fiel às ambições inconfessadas na aceitação (ou não) da concorrência. No caso ele enfrentaria a amante (Angela Lansbury) mostrada nas primeiras cenas como a herdeira de uma velha raposa do partido, e o aparente bem estar no leito com a esposa (Katherine). Claro que no final ele faria um discurso providencial moralizando o entrecho. Vendo a esposa ameaçar sair do cenário, ele mesmo sai, alegando em bom tom que preferia a modéstia de cidadão comum a um cargo cercado de oportunistas.
Obviamente o roteiro não mostra que é só papo furado. Mas o filme acredita que o que se vê(e ouve) é o certo.Acaba com a dupla de tantas comédias de outros diretores, como George Cukor, trocando beijos e sorrisos. Angela fica num plano intermediário mordendo os beiços. Aliás, no filme não há um único fotograma dela beijando Tracy. Em 1948 vigorava o Código Hays, a censura dos estúdios, e Capra só criticaria isso no trabalho seguinte, o apagado e possivelmente(resta rever)mais divertido “Nada Além de um Desejo”(Riding High/1950).
O roteiro de Anthony Veiller e Myles Connoly é servil ao texto original de Howard Lindsay e Russel Crouse, Falas, falas, falas e pouco interesse ao espectador de longe do espaço físico e do tempo da ação.
O filme levou à falência a empresa que Capra criou quando veio da guerra(a 2ª.Mundial), a Liberty. Bem verdade, até “A Felicidade Não se Compra”(It’s a Wonderful Life) seu melhor titulo, não foi bem de bilheteria.
“A Rosa Tatuada” (The Rose Tatoo) tem roteiro do autor do original de teatro, o afamado Tennessee Williams. O diretor Daniel Mann era pródigo em transplantar peças para telas como “A Cruz de Minha Vida” e “A Casa de Chá do Luar de Agosto”. Neste que foi o seu terceiro trabalho atrás das câmeras ele contou com Anna Magnani solta, fazendo um tipo que imortalizou na sua terra, o da italiana “brava de guerra”. Ela é a viúva assediada por Burt Lancaster afinado num papel diferente do que fazia como motivo de demontrar seu talento acrobático. Desta vez as imagens não se prendem a 4 paredes. Há cenas exteriores, há muito movimento de objetiva, há um senso de cinema. Espanta porque todo o pessoal de apoio é de teatro, ao contrário de Capra e sua equipe em “Sua Esposa e o Mundo”. O que eu acho é que Capra quis voltar à formula do seu “Do Mundo Nada se Leva” ou mesmo de “Arsênico e Alfazema”(Este Mundo é um Hospício). Filmou teatro porque achou que assim encontrava a comédia que deixou antes de ir fazer documentários de guerra. Errou feio.
Os filmes são, de todas as formas, peças históricas. Estão em DVD com boas resoluções de imagens. Quem estuda historia do cinema deve conhecê-los.

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