quinta-feira, 21 de abril de 2011

Perto dos Cem

O cinema Olympia completa 99 anos neste 24 de abril. Gravei a data quando era bem criança pelo simples motivo de ser o aniversário de minha mãe. Ela festejava os seus 12 quando Antonio Martins e Carlos Teixeira inauguraram o que seria o primeiro cinema de luxo da cidade, o espaço que os sobreviventes da época da borracha pareciam pedir. Antes cinema era programa do Beco do Carmo, de uma dezena de barracões com lençol estendido e projetor de manivela entre bancos corridos e, na concepção mais elegante, de programas entre peças cômicas ou dramáticas do Cine Theatro Chalet ou, ainda, das “fitas” que passavam nos dois cinemas do seringalista Antonio Llopis.
Lembro de que meus pais não gostavam de freqüentar o Olympia porque tinham de vestir roupa de festa e eles gostavam de ir a cinema com o traje dito esporte, fazendo as sessões noturnas das casas de periferia como o Guarani ou o Universal da Cidade Velha ou o Independência perto do Largo de S. Bras. Não iam ao Moderno pois minha mãe tinha medo de incêndio num espaço fechado (o salão não tinha portas laterais).
Eu é que praticamente me criei no Olímpia (com “i”). Morava perto, e por causa ia a pé, levando os trocados do ingresso no bolsinho da calça. Minhas sessões preferidas eram a de 15 horas nos dias úteis e 9 de domingo. Curti de tudo, descobrindo que gostava de filmes menos comerciais, achando beleza no estranho de imagens que não se esgotavam no letreiro do fim. E graças ao cinema li o que não leria comumente, como peças de Shakespeare.
A minha cinemania era tão intensa que em 1950 passei a exibir filmes em casa, usando películas de 16mm. Era como o DVD de hoje. Graças ao manejo dos projetores aprendi as manhas da técnica e depois as de filmagem usando câmeras diversas que me obrigavam a conhecer fotografia (nesse tempo automatismo era ficção - cientifica).
Quero estar vivo para festejar os 100 anos do cinema que de alguma forma foi meu professor. E não apenas isso. Namorei, testemunhei romances e brigas, acompanhei diversas fases do espaço que só merecia atenção dos proprietários quando começava a deteriorar.
Penso o Olímpia como minha outra casa. Lá ficou um pedaço de tempo em que minhas preocupações se esvaiam nas intrigas de mentirinha onde estrelas como Ingrid Bergman, Rita Hayworth, Judy Garland, Humphrey Bogart, James Stewart, Gary Grant, Jean Gabin, Michelle Morgan, Gina Lollobrigida, Oscarito, Anselmo Duarte, e tantas mais de tantas partes do mundo viviam para sensibilizar quem as visse atuando. Eram filmes para sentir, não para discutir como os novos cineastas capitaneados pelo franceses propuseram a partir de 1959. Claro que tenho saudades desse tempo, mas reconheço que me encontro numa época maravilhosa onde posso trazer todo esse céu de estrelas para minha sala, no conforto da TV de alta definição.
O Olimpia é parte de Belém, é orgulho da gente por sua longevidade onde a espécie tende a morrer cedo. Parabéns a ele pelo quase centenário.

Um comentário:

  1. Veriano querido,

    Realmente o Olímpia é uma parte muito especial da nossa querida Belém.É bom saber que ainda existe pessoas como você. Pessoas que se importam com a arte.

    Suas histórias me levaram a visualizar um tempo de áurea do nosso Cinema Paraense que gostaria de ter vivido e conhecido, mais enfim... Deve te sido um tempo mágico, e da pra perceber que você soube aproveitar bem esse tempo.

    Não tem nem comparação a Belém de antes com a Belém de hoje. Espero que não venha morrer os cinemas nem os teatros de nossa cidade, que os nossos jovens venham fazer diferença, neste universo tão especial que é a arte.

    Jennifer Albuquerque.

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