terça-feira, 15 de outubro de 2013
Gravidade,O Filme
Duas maçãs entraram na lenda: a de Adão(ou da Eva) e a que caiu na cabeça de Newton. Esta última teria sido a musa da Lei da Gravidade. Para quem não lembra da aula de Fisica, “a matéria atrai matéria na razão direta da massa e na razão inversa do quadrado da distancia”. Certo? No filme “Gravidade”(Gravity), ora em cartaz mundialmente, a lei ganha o titulo mas é jogada no espaço com certa liberdade estilística. Um exemplo em cinema: no clássico “Destino à Lua”(Destination Moon/1949) de George Pal & Irving Pichel, os dois astronautas que consertam uma antena de sua nave jogam um para o outro uma garrafa de oxigênio. A garrafa cai. Isto deu bode na critica. De fato não deveria cair pois no espaço não há queda (pois não existe chão). O rigor seria a garrafa ficar flutuando perto dos personagens, pois ela (matéria) seria atraída por eles. Bem, no filme de Alfonso e Jonas Cuaron a dra.Ryan(Sandra Bullock) está de fora de sua estação orbital junto com o colega Matt (George Clooney) quando estilhaços de uma nave chegam a eles e rompe-se o cordão que os prende ao objeto de trabalho(a estação). Há um impulso e os dois são arremessados para longe. Aí cabe o arremesso devido à força inicial. À deriva, pois distam muito dos objetos maiores, os dois estão condenados à morte quando parar oxigênio dos capacetes ou furar as vestes (qualquer descompressão mata na hora e o filme mostra um colega deles mumificado por desgaste nos trajes espaciais). A salvação dos heróis da história é conseguir chegar a um engenho chinês que existe nas proximidades (alguns quilômetros). Para isso usam propulsores anexos aos trajes. Tudo OK. Mas difícil num plano real até porque o estresse desgasta e por mais treinado que seja o astronauta ele, ao consumir demais oxigênio, tende a “pregar” no caminho.
Kubrick em “2001” mostrou um dos tripulantes de sua nave espacial desprendendo-se e sumindo no espaço por conta da artimanha do robô Hall. Nem se cogita em ir atrás dele. O robô deu o impulso. E quando o outro astronauta consegue reentrar na sua nave há um brevíssimo momento de abertura da escotilha, impulso, choque de áudio e rápido fecho da mesma escotilha conseguindo evitar(de forma cientificamente discutível) o efeito da descompressão. Aqui, em “Gravidade”, a jovem medica consegue abrir com suas mãos a comporta de entrada da estação objetivada e entrar sem problemas. Ficção, mas perdoada, assim como o seu regresso a Terra numa fantástica reentrada na atmosfera em uma parte da nave-mãe e sua queda no mar com fôlego para emergir e chegar à uma ilha não importa de banque uma Robinson Crusoé feminina. Não importa porque o filme é mais do que uma aventura no espaço. Cuaron pinta a sua mocinha de mãe sofrida pela perda da única filha. Há um momento em que ela, já na estação chinesa, vê o colega considerado morto chegar, entrando sem dar bola para a descompressão e sentar-se ao lado dela. A rigor a mocinha morreria. Mas é um parêntesis poético. Os dois falam de suas vidas, Sem o recurso cômodo do flashback ai se fica sabendo quem é quem.
Vários planos da Terra (diga-se fotos reais) são comentados por sua beleza. De fato impressiona como um crepúsculo ou uma aurora permanente no tom azul. Lá no cenário negro onde estão o casal astronauta procura esquecer o perigo no trabalho. Mas ainda assim comenta a visão do mundo-mãe.
“Gravidade”é sobre isto: o ser humano fora de seu ambiente, percorrendo o que está além de seu “habitat”,dimensionado na pequenez que se lhes dá a situação. Chega a haver uma legenda à guisa de prólogo dizendo que no espaço o homem não pode viver. Teimoso, tenta isso e ir além. A conquista cientifica arranha a sensibilidade e quem no fim das contas está invadindo o espaço é literalmente estranho no ninho. E para quem apenas o vê, um objeto de admiração como um poema. No ser vivo em um silencio de morto está toda a grandeza anímica, toda a maravilha que é a pessoa física com seu tesouro psíquico.
Poucos filmes se contentam só com isso:só com duas pessoas vagando no espaço. Os Cuaron jogaram forte no que se pode ver como thriller cientifico ou um pouco além. Ganharam. “Gravidade”é o filme do momento.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário