E deu “Ela” como o melhor filme do
ano passado. Não daria até que o revi no Mosqueiro em bluray. Jonze,o autor,
seguia de perto “Simone”(2002)de Andrew Niccol onde Al Pacino fazia uma boneca
de estrela de cinema –e lembro de outro enredo em que uma figura digital
ganhava corações e mentes. Mas no caso do filme do cineasta de “Quero ser John
Malkovich’ não interessava muito a fêmea digital. O caso era o solitário que
atendia ao programa dessa figura. Poucos filmes chegaram de forma tão feliz à
solidão deixando de lado a estética de alongar as sequencias como se a chatice
fosse a formula ideal para se dimensionar um cinema anímico(e Antonioni, por
exemplo, filmava caminhadas imensas de Monica Vitti ou derramava closes de
outros astros e estrelas na fossa como alimentos dessa fossa).
“Ela”é um raro filme sobre
sentimentos que não é chato. Hoje eu não mais aturo filme chato. Já se foi o
tempo em que admirava os trabalhos que tentavam derrubar a cinestetica
tradicional em favor de um retrato mais feliz dos infelizes. Cinema, a meu ver,
é cinemática mesmo, é parte da mecânica que conta historias de movimentos (ou
com movimento)ou procura sensibilizar a partir de estímulos à memória de quem o
vê. Daí muitos dizerem que os filmes de
efeito mimético são os mais queridos por certo publico. Claro que não gosto
apenas do que me toca como experiência vivida, mas aprecio quem tenta partir de
ideias que tenho de como traduzir em imagem o que se pode pensar (e sentir).
Num ano pobre de cinema Ela
sobressaiu. E em termos de revisão também mudei diante de “Viver,Amar, Cantar”
o derradeiro filme de Alain Resnais. Apesar de teatral, usou o teatro como
elemento de cinema com uma propriedade muito inventiva, Tanto que não filma uma
peça, mas o ensaio de uma peça. E é como se nisso estivesse a própria marcação
do palco com a vantagem dos closes e do modo como desvia o olhar para detalhes
com os movimentos de câmera. No teatro, obviamente, você só tem um plano e
nenhum movimento intrínseco. O cineasta de “Hiroshima Mon Amour” mostrou a
diferença. E se o herói da historia morria, ele próprio se foi meses depois das
filmagens. Tinha mais de 90 e provou a inteligência que persiste no provável envelhecimento
dos neurônios.
Vi poucos filmes em cinema. Em casa
vejo a media de 3 por dia. O conforto casa com a qualidade dos produtos .
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