Empregada
domestica que dorme no emprego é hoje bicho raro. A maioria vai e volta.E
muitas vezes os patrões não atinam para o fato de quanto é sacrificado essa
viagem diária. No cinema, as domesticas já estiveram em filmes mais que
interessantes como “O Romance da Empregada” e “Domésticas”. Agora surge este “Que
Horas Ela Volta?” onde se exibe uma forma da luta de classes, a empregada que
se aloja na casa da patroa, cuida do filho dela como se fosse seu, e se espanta
quando a filha que mora longe chega para fazer vestibular. O cenário é o
Murumbi(S.Paulo). A domestica mora num quartinho. Tem que alojar a filha ali,
agradecendo o favor dos patrões (digo mais patroa porque o homem da casa é um
idoso semiaposentado que não pesa na balança). O problema é que a jovem não se
afina na vida que leva a mãe. E abre-se espaço para o drama da classe que se vê
por baixa.
A
cineasta Anna Maylaert não faz demagogia, não solta foguetes à esquerda, não
endeusa os ricos. Faz cinema. Usa sempre câmera fixa, dosa os enquadramentos
para deixar num plano o que quer dizer, tira o melhor de seus atores. Regina
Casé, por exemplo, nem deixa lembrança dos papéis de comediante “grossa”
doutras vezes. Numa hora em que se mete na piscina vazia dos patrões, e vazia
porque a filha ousou tomar banho antes nesse espaço, baila a liberdade,
enaltece o ser humano que é. Beleza de sequencia e gol da atriz.
O filme
milagrosamente chegou à Belém. Mas como todo milagre numa estação pecaminosa
por filmes ruins em série, dura pouco em cartaz e passa em sala pequena e com
apenas dois horários por dia. De qualquer forma passa. Muita coisa que promete
não nos chega.O novo Woody Allen , por exemplo(“O Homem Irracional”)
restringe-se a cinemas do sudeste e mesmo do nordeste. Aqui é a horta de
abacaxi. E o pior é que há quem coma, a começar pelos que desejam ver os filmes
estrangeiros dublados.
Eu pouco
vou a cinema atualmente. Mato minha cinemania vendo dvd 3 x ao dia. Mas não
deixo passar as exceções. “Que Horas ela Volta?” que nos EUA e Europa chama-se “Segunda
Mãe”, é uma delas.
Pedro,
ResponderExcluirAssisti ao filme hoje. Belíssimo retrato de um país que ainda tem os pobres "pais" subalternos aos patrões, porém com "filhos" cheio de esperança.
Destaca-se também a direção. É fascinante como ela nos apresenta a casa e o lugar do empregado ao manter a câmera quase sempre na cozinha enquanto os patrões comem.
É a máxima de que a câmera (as imagens em movimento) nos indica o local de cada um.
Belo filme!