Plenamente compreensível o fracasso das exibições locais de “Meu
Amigo Hindu”(2015) o filme de Hector Babenco. Só agora tive acesso a ele em
cópia dvd. O roteiro é uma espécie de expiação do sofrimento que o cineasta
sofreu com sua doença e tratamento. Portador de um linfoma, teve de fazer
implante de medula óssea apelando para um irmão doador com quem não mantinha
boa relação. E o longo trajeto entre hospital e espaço de convalescência,
evidenciando o desnível na relação sexual, além da forte impressão de que
caminhava para a morte, ganha a correspondência em imagens apoiando-se
especialmente no ator Willem Dafoe, realmente bem colocado no que se exige do
tipo.
Mas o filme é excessivamente particular, e as prioridades de
lembranças seguem não o quadro clinico, mas o afetivo, tentando expor os
sentimentos do enfermo, não oferecem embasamento para uma trama de cinema
comercial. Nem chega perto do esboço da incomunicabilidade pintado por
Antonioni em seus filmes mais festejados. Até mesmo a inclusão de uma figura
que representa um enviado da morte(papel do ator Selton Mello), passa sem
profundidade.
“Meu Amigo Hindu”é tão carente que o próprio titulo, com
base em um menino que o doente vem a conhecer e que faz de confidente, não
ganha a profundidade capaz de justificar a eleição de melhor lembrança.
Babenco é um argentino naturalizado brasileiro que entre nós
fez bons filmes. Seu “Carandiru” saiu agora em nova edição dvd. Refeito do câncer,
tenta a volta por trás das câmeras com muita pretensão. É compreensível o seu
trabalho e sua sinceridade. Mas não comunica. Nem com os críticos que pedem
cinema profundo sem exceção. Creio que dito assim compreendo o motivo de poucos
espectadores por aqui no “Estação” e mesmo assim abandonando a sala antes do
final ou saindo comentando a “chatice”.
Nem sempre apenas o que se sente possa ganhar filme. Há de
se notar o que os outros também sintam.
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