A historia de Richard Connel (1893-1949) “Encontre John Doe”(Meet
John Doe)serviu ao filme que Frank Capra realizou imediatamente antes de ir
para a Europa filmar documentários da série “Why We Fight”trabalho que
justificava a presença norte-americana na 2ª. Guerra Mundial. Curioso, de
entrada, é que Capra era italiano (Francesco Capra) e abominava o fascismo de
Mussolini, lutando com suas armas (o cinema) contra a prepotência que se
instalou especialmente na Alemanha e Itália. Quando realizou “Adorável
Vagabundo”(Meey John Doe)em 1941 havia contabilizado o sucesso de seus
trabalhos nitidamente socialistas: “O Galante Mr Deeds”(Mr Deeds Goes to
Town/1936) e “A Mulher Faz o Homem”(Mr Smith Goes to Washington/’1939)este
ultimo abominado pelo pai dos Kennedy, lutando para que o filme tivesse exportação
proibida e com isso inviabilizado no páreo do Oscar(mas acabou ganhando o
premio de roteiro). Seria uma resposta à direita poderosa na América de então a
ponto de precisar acontecer o bombardeio japonês em Pearl Harbor para que o
país entrasse no conflito contra o chamado Eixo (e no caso não só Alemanha e Itália
mas também o Japão).
John
Doe é numa tradução brasileira “Zé Povinho”. Nome do homem comum.Na historia,
uma jornalista (Barbara Stanwick) estava em compasso de desemprego e achou de
se despedir colocando na sua coluna de jornal uma falsa carta de um homem do
povo que dizia estar propenso ao suicídio como forma de protestar contra a
politica corrupta de sua terra natal. Como a carta faz sucesso a jornalista
busca um John Doe real e encontra num jogador de basebol aposentado (Gary
Cooper). O homem encarna de tal forma o personagem que passa a agir como John
Doe, culminando com um comício de protesto a ser sabotado pelo prefeito local.
A continuação da luta, já que se via abortada pelas forças governistas, é levar
adiante a ideia de suicídio. Seria na noite de Natal, atirando-se do mais alto edifício
da cidade. Nesse ponto o filme parara. Capra contou em suas memorias que passou
notes acordado pensando em como terminar a façanha do combativo Doe. Ganhou a
ideia de que o homem do povo seria salvo
pela mulher que “o criou” e na hora em que ia mesmo se atirar para a morte.
Nessa sequencia há um fecho de close em que um tipo afirma “Este é o povo,
ninguém pode com ele”.
O filme
não repetiu o sucesso comercial dos anteriores mas virou clássico. Capra sempre
focalizou o cidadão comum, o homem idealista que a sociedade oprime; Mesmo
depois da guerra voltou ao tema com “A Felicidade Não se Compra”(It’a a
Wonderful Life/1946).
O
idealismo do cineasta foi mal interpretado por alguns críticos que o chamaram
de “Polyanna”(a garota otimista da escritora Eleanor Porter duas vezes filmada).
Mas ele nunca renegou seu ideal. Fez um cinema direto, sempre bem construído, e
muito popular. No seu livro “The Name Above the Title” esceveu que sempre se
incomodou com o publico modesto, com o cidadão comum. Seus atores preferidos,
Cooper e principalmente James Stewart(herói da guerra) foram bem encaixados nos
tipos.
Ver
hoje no Brasil “Adorável Vagabundo” é motivo de reflexão. Falta por aqui e
agora uma voz como a de John Doe, ou ouvidos que ouçam a mensagem social. Vendo
como a politica se move à custa de diversas formas de interesse acha-se
analogia com o herói de Capra, um desconhecido que permanece oculto ou rouco .
Um
filme sempre atual desde que intrinsicamente democrata. Uma brilhante continuação
do senador caipira de “Mr Smith...”(outro nome comum) que descobre falcatruas
no senado) ou Mr. Deeds, um felizardo em loteria que resolve repartir seu ganho
com os menos favorecidos.
Capra
era um autor de cinema, mesmo que só ajudasse em roteiro de seus filmes no caso
de “A Felicidade...”. Sabia mostrar a bandeira de luta por um ideal.E sem
apelar para ditaduras (ao contrario, sempre contra elas). Foi ele quem elevou a Columbia a um grande estúdio
e ganhou aplausos, no fim das contas, do presidente Franklin Roosevelt que
fazia questão de se filiar entre os seus fãs.
Este
mês dois filmes de Capra estarão à disposição dos espectadores locais no Cine
Clube Alexandrino Moreira. O outro filme. “Do Mundo Nada se Leva”(You Can’t
Take it With You/1938) será comentado outro dia. É um raro exemplo de projeção
aplaudida em cineclube paraense. E o Oscar de seu ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário