Em 1940 Carlos Galhardo gravou a valsa de Joe Zimbres e
Alberto Paz “Roda Gigante’. Falava das constantes voltas da vida, aonde “vai um
amor, vem outro amor, a roda não pode parar...”
Woody Allen não deve ter ouvido a musica brasileira, mas o
seu filme “Roda Gigante” cabe bem como uma ilustração da letra da antiga
musica, tratando de um casal em Coney Island, o marido operando um carrossel, a
mulher em segunda núpcia tentando esquecer um passado ruim, a filha que chega
perseguida pelo marido mafioso, e um guarda-vidas na praia que serve de corifeu
contando quem é quem e o que acontece.
Salientam-se em principio dois elementos: o trabalho dos
atores, todos exemplares, e a fotografia do mestre Vittorio Storaro, realçando
até mesmo closes com a mudança de cor enfatizando o que se passa com cada um.
Mas é uma narrativa dinâmica que leva o espectador a se
emocionar com o relato dramático das personagens, todas sofridas, detalhando a mulher
de 40 anos que passa a se relacionar com o guarda muito mais novo e que fica
ciumenta quando a enteada vem a gostar do rapaz (e ser correspondida). O papel
da a Kate Winslet o seu melhor momento no cinema. O final com um plano bem próximo
de seu rosto denotando sofrimento, sabendo que tem de aturar o marido rude
(excelente papel para Jim Belushi)e jamais sair do abominado emprego em uma
lanchonete e as caricias que alguém que não ama (perdendo o novo amor) é antológico.
O filme é mais um triunfo de Allen, cada vez mais longe do
comediante dos primeiros tempos, agora seguindo historias de pessoas sofridas
na linha de “Blue Jasmine” e do seu clássico “Match Point”(2005). Impossível
ver o filme e ao menos consultar o relógio de pulso. Tudo é muito ágil e nada é
gratuito nos preciosos enquadramentos e exemplares movimentos de câmera. Para
se ter uma ideia do quanto Storaro consegue basta ver no close de Kate como as
cores passam para um vermelho rápido e os detalhes salientam rugas da
personagem. Há também dois ganchos metafóricos: o garoto, filho de Ginny(Kate)
tem mania de incendiário , exibindo isso em qualquer lugar e terminando na
praia. Outro gancho é o próprio carrossel,e,a roda do titulo que se vê ao
longe. Como cantou Galhardo “vai-se uma dor, começa outra dor, a roda não pode
parar. Ama-se alguém despreza-se alguém, contrastes que fazem lembrar que a
nossa vida é uma roda gigante que está sempre a rodar...”
Desde agora um de meus melhores filmes do ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário