O paraense Syn de Conde (Synésio Mariano de Aguiar), primeiro brasileiro a filmar em Hollywood, dizia que no tempo dele “uma fita era feita com um mocinho, uma namorada do mocinho, e um vilão”. Tudo o mais era o relacionamento entre esses tipos. Hoje em um filme como “Código de Conduta”(Law Abiding Citizen)a coisa surge embaralhada. O mocinho sofre a perda da família em um assalto e continua sofrendo quando sabe que um promotor público condena um dos criminosos (o menos culpado) e dá uma pena mínima ao outro(o verdadeiro assassino). A injustiça faz mudar a regra do jogo: o mocinho vira um vingador terrível e passa a ser vilão quando extrapola a sua área de ataque para o sistema judiciário, atacando praticamente a cidade inteira (a bonita Filadélfia).
De Conde não entenderia essa nova regra do jogo. Mas se o roteiro de Kurt Wimmer e Frank Darabont (o último responsável por bons trabalhos como diretor, a exemplo de “A Espera de um Milagre” e “O Nevoeiro”) condena a vingança pessoal, sugerindo que a lei é flexível, mas ainda é o que o cidadão possui para se defender, a direção de F. Gary Gray pisa no acelerador e faz do programa pouco mais de hora e meia de suspense, levando o público a dançar entre atributos de personagens, talvez carreando idéias malsãs em quem já tem mágoas com a lei.
Tudo bem que o cinema pode denunciar arbitrariedades. Mas é preciso ser responsável e quando a trama recai no realismo o bom é seguir uma forma realista e não fantasiar como agora, quando o vingador se transforma em personagem de gibi e emprega uma tecnologia da Marvel Comics na sua missão de vingar os entes queridos.
O diretor parece que só se dá conta da irresponsabilidade temática quando, no final, exibe em close o promotor maroto com um ar de quem está sofrendo algum trauma mesmo na hora de aplaudir a filha menor em um concerto. Ali é como se dissesse: as falhas judiciais provocam mais crimes. (Pedro Veriano)
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