quarta-feira, 24 de março de 2010

A RAPOSA, O LIVRO E O JOGADOR

Os filmes dos nossos cinemas variaram em gênero, numero e grau. “O Fantástico Sr. Raposo” é uma fabula moderna em que os bons não são necessariamente bons. O Sr. Raposo do titulo, diz que vai deixar de ser ladrão de galinha, monta uma casa bacana debaixo de uma arvore,saúda a mulher que lhe vai dar um filho(no original literário é uma ninhada), e se dedica a escrever uma coluna no Jornal dos Bichos. O problema está na sentença de quem foi rei sempre será majestade, Raposo não resiste em atacar os galinheiros dos senhores Boque, Bunco e Bino. Aquela história do escorpião que pede carona a um sapo para atravessar o rio e no meio do caminho pica o sapo apesar de ter jurado se comportar. “-É minha natureza” diz o escorpião. É o eco ouvido pelo Raposo pai da família que ataca as aves chegando a armazenar carne em sua dispensa.
O diretor Wes Anderson não é um La Fontaine ou um Esopo. Intelectual da linha moderna fez “Os Excêntricos Tenenbaums” e “Vida Marinha com Steve Zissou”,filmes com gente estranha. Nada que o impeça de guinar para a animação e engendrar personagens avessas aos estereótipos cinematográficos. Na sua forma, o método “stop motion” de visualizar Raposo & familiares tem correlação com o que já mostrou. E na fidelidade a um tema, reafirma talento. Agora de forma mais acessível ao grande público. A garotada vai aplaudir e os mais velhos não vão se sentir incomodados em acompanhar seus fedelhos ao cinema.
“O Livro de Eli” é outro exemplo de fidelidade. Agora por parte dos irmãos Hughes , os que fizeram “Do Inferno” onde Jack,o Extirpador era uma figura nobre que não se revela de todo no desfecho da história. Desta vez os Hughes mostram-se crentes. Eli (Denzel Washington) é um andarilho no mundo pós-apocalipse que segue rumo ao oeste dos EUA levando consigo o último exemplar da Bíblia. No caminho ele encontra um tirano que deseja o livro. Eli parece inscrever o seu próprio livro no texto sagrado. Antes de sucumbir a um atentado do vilão consegue ditar os versículos do Velho Testamento que sabia de cor a um providencial escriba-editor. Ressurge a Bíblia. E a companheira que ele adquire na jornada é quem vai substituí-lo na reorganização do mundo.
O cinema anda filmando demais fim de mundo. Ainda ontem eu vi “A Estrada”(The Road) de John Hilcoat com base numa história de Cormac MacCarthy. Ali, pai e filho sobreviventes de uma guerra anônima buscam meios de sobreviver num mundo violento. No caso de “O Livro de Eli” é a mesma coisa, porém o sentido da fé e a história sagrada, permeiam o cenário e colocam um autêntico samurai na luta pelo Bem.
OK, tudo acomodado como um sermão pronunciado numa igreja. Mas o visual conseguido é muito bom, talvez o melhor dos filmes semelhantes, superando o de “Mad Max”,a trilogia australiana que lançou o ator Mel Gibson..Só isso já vale a ida ao cinema. E como o perdão é a alma da religiosidade, perdoar rasgos sentimentais é um aceno para a salvação do espectador.
Finalmente “O Sonho Possível”(The Blind Side) aquela coisa que deu um Oscar a Sandra Bullock. É como se ela própria abrigasse em casa o negro pobre vivido por Quinton Aaron, bolsista numa universidade por saber jogar futebol americano. Ela, madame Leigh Anne, é socialite de carteirinha. Mas samaritana de carimbo. O argumento deriva de um caso real, mas o ruim é a gente ter de agüentar cenas dos jogos, esse tipo de esporte que para nós, do pé na bola (ou “soccer”) é escrita chinesa. E convenhamos, Bullock não diz por onde ser digna de prêmio, Talvez tenha merecido mais o Framboesa de pior intérprete do ano dado pela turma irreverente que contabiliza o outro lado da medalha em Hollywood.
Um saco.

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