quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ride Pagliacci

Longe da opera de Leoncavallo a gente, no cinema, ria de tantos traídos pela sorte(não apenas pela mulher) e/ou vingadores anônimos da sociedade. Os grandes palhaços estão morrendo. Afora Chaplin, que deixou este mundo em 1977 e já não mais fazia rir como no tempo em que as “fitas” eram mudas, os seus comparsas de diversos países desapareceram além das câmeras.
Quando eu via nos cinemas mais filmes do que os dias do ano (hoje nem que eu quisesse não podia arriscar tanto), os EUA tinham, por exemplo, Danny Kaye (o melhor showman que eu conheci). Eu não cito atores versáteis como Jack Lemmon, bons em comédias como em tragédias (“Se Meu Apartamento Falasse...” é a tragédia social do meio urbano). Os franceses tinham Fernandel, o “cara de cavalo”(fantástico em “O Carneiro de 5 Patas”). Os italianos iam à luta com Totó, o mestre feio, e Walter Chiari. Os ingleses, que tinham fama de não rir, botavam nas telas Norman Wisdom. Esses palhaços sucederam os heróis da comédia visual, o cinema em estado de graça que a partir de Chaplin e antes da extraordinária anarquia dos Irmãos Marx atacavam de Harold Lloyd, Buster Keaton, até mesmo Laurell & Hardy (e uma vez ou outra os imitadores Abott & Costello). Ah sim: tinha Jerry Lewis. Este ainda vive. Mas é um fantasma de corpo presente.
Norman Wisdom morreu este mês (outubro). Tinha 95 anos. Sua formula de fazer rir era ditada por uma expressão facial econômica. Mas o resto do corpo se mexia. E a cara de pedra, “a la Keaton”, ajudava. Chegou a fazer um filme americano: “Quando o Strip Tease Começou”(The Night They Raided Minky’s/1972) de William Friedkin. Basta este exemplo de filme A para qualificar Norman como o desajeitado que dava tombos homéricos, lembrava o tipo que Donald O’Connor tão bem encarnou em “Cantando na Chuva”.
Aqui em Belém passavam lotes de filmes baratos com Norman Wisdom, distribuídos por J. Arthur Rank (primeiro vinham através da Universal, depois pela própria firma britânica). Eu não os perdia. Ria o bastante para suportar o pior da rotina de estudante (especialmente quando fiz o curso de medicina).
Hoje os ingleses apostam em Rowan Atkinson. É outra norma. O ator é expressivo, mas o tipo que ele criou é de cartoon. Se as gags são bem escritas ele funciona. Mas se é cercado de boa produção não possui a ingenuidade do seu velho colega (ou mestre, fica melhor). Por sinal que Atkinson está deixando de ser Mr. Bean, o tipo que lhe deu fama. Sente que cansou. Não sei quem ficará no trono dos galhofeiros. Se não aparecer substituto nós, cinemeiros,estamos fadados a achar graça, apenas,do que se diz sério, dessas aventuras histórico-mitológicas de grande orçamento, onde a piada é justamente a falta de piada. Ou o ridículo em overdose.

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