Arnaldo Jabor é mais conhecido pelos jovens como cronista de ironia mordaz, uma espécie de prosseguidor do estilo de seu falecido colega Paulo Francis. Mas ele fez parte do movimento “cinema novo”,a "escola" que revelou os talentos de Glauber Rocha, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues e outros que surgiram no inicio dos anos 60, muitos ligados a antiga UNE, estudantes combatentes ao regime instalado no país pelos militares.
No passado Jabor fez 9 trabalhos em cinema, entre produções curtas e longas. Gostava de títulos que fossem facilmente memorizáveis como “O Casamento”, “Toda Nudez Será Castigada”,“Tudo Bem”, “Eu Te Amo” e “Eu Sei que Vou Te Amar”. Desde 1990, quando dirigiu o curta-metragem “Carnaval”, passou a se dedicar inteiramente ao jornalismo. Este ano resolveu voltar às origens. E com o mesmo padrão de nomes & temas: “A Suprema Felicidade”. Quis ele realizar o seu “amarcord”, analogia com o clássico de Fellini. Seria uma lembrança, ou melhor, um álbum de lembranças, de seu tempo de juventude. Um roteiro (dele) que se iniciava no final da 2ª.Guerra Mundial (1945), caminhando pelas diversas mudanças político-sociais , sempre na ótica de um personagem, no caso uma criança no começo da historia, depois um adolescente que vai descobrindo o meio em que vive, a estrutura familiar e o seu próprio corpo.
O filme, agora lançado nacionalmente, revela-se uma decepção. Não pelo desvio artístico do autor, que na verdade nunca foi muito bom a não ser em “Tudo Bem”(1978) onde se via um casal de velhos em um apartamento rodeado de fantasmas amigos. Mas pelo desencontro das idéias, a desconexão do tempo e espaço a partir de uma porfia contra a linearidade do cinema tradicional, o embaralhamento dos fatos históricos, a desconexão com o próprio tipo principal. Basta dizer que a trama é centrada no garoto Paulo, e encerra no avô dele, Noel (Marco Nanini, o melhor em cena). Ainda mais que em tom apoteótico, seguindo um esquema teatral que parte das falas e segue pelo enquadramento onde se vê, por exemplo, tipos de corpo inteiro numa sala discutindo sem que a câmera se mova.
A progressão etária de Paulo segue a explicitude erótica exposta nos outros trabalhos do cineasta. O que se privilegia é o sexo. Não interessa o que o menino estuda, o que pretende fazer quando deixar a escola, como ganha o seu sustento(já que o que pai, aviador frustrado, é de classe média baixa e a mãe não trabalha), e o que pensa dos familiares mais próximos. Resta em um olhar (mesmo assim mal definido) para todas as situações dramáticas, com mais evidencia no papel do avô boêmio, exímio trompetista, ainda músico de bares .
Se a narrativa abdica de ser em primeira pessoa, o que é mostrado, entre reconstituição de épocas e pedaços de cine-documentário, é de uma gratuidade incômoda. Não há um encaixo histórico perfeito. As cenas são alegóricas, mas os planos de guerra, por exemplo, não refletem o que alguém esteja sentindo. É uma pontuação desigual, como um “tapa-buraco”.
Até os intervalos musicais são anacrônicos, como alguma musica estrangeira fora da época fixada (e nem se fala nos números nacionais). Aliás, se o filme fosse um musical teria mais liberdade e talvez acabasse menos ruim. Como está é falso e monótono. Além disso, guiado por um baixo erotismo a lembrar as pornochanchadas dos anos 60/70, com tudo de mau gosto que se exigia no tempo em que a meta era driblar a censura ditatorial.
Se as memórias de Jabor forem essas, faltou a participação da razão. Seria o quadro de um inconsciente freudiano ou de uma falsa interpretação de que o publico de cinema aposta no que seja “proibitivo”.
Concluí que foi uma suprema infelicidade o retorno do cineasta. E a suprema, pelo menos no meu caso, foi ver o filme terminar.
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