terça-feira, 7 de junho de 2011

Ir a Cinema já é um Filme

Fui ver “X-Men, Primeira Classe” na sessão de 10,40 de um domingo numa das salas do grupo Cinépolis no shopping Boulvard. Ao entrar pela porta lateral, como faço habitualmente por vir a pé, de casa, a poucos metros dali, fui interpelado por um segurança que só faltaram me segurar e botar para fora do prédio. Teimou comigo que o horário do cinema estava errado, que o shopping só abriria suas portas as 11 e na comunicação com outro segurança por interfone constatou a sua afirmativa. Eu não me conformei e quando o guarda se descuidou segui uma jovem que se encaminhara para o elevador, talvez funcionária de alguma loja. Fui ao andar dos cinemas e constatei que as bilheterias e portaria estavam funcionando normalmente. Só que não havia público. Eu era o único espectador a chegar na hora da sessão. Disse o que ocorreu, de como os porteiros estavam tirando platéia das salas. Não sei em que deu. Sei que a projeção começou na hora certa e chegaram mais espectadores. Bem, o filme não é nenhuma jóia que cinéfilo compra para o seu tesouro intelectual. Para quem acompanha a série, é curioso como adentra nas origens dos tipos criados por Stan Lee e Jack Kirby. Diz como surgiram apelidos como Magneto e Fera e como o professor Xavier ficou aleijado. E como ele e Magneto foram amigos e se estranharam nos anos 60, justamente na época em que os mutantes salvaram o mundo impedindo a guerra nuclear que estava a ponto de ser declarada quando os russos queriam montar foguetes com ogivas nucleares em Cuba (qua qua qua).
Hoje se a gente não se meter a sair de casa, engavetando o comodismo, não vai mais a cinema. Tudo tem horário fixo, nos fins de semana há enorme afluência (compensando o deserto dos chamados dias úteis),as pipocas com seu cheiro de cocô de cachorro invadem as salas em pratos que rivalizam com restaurante “fast food” (ou eu posso chamar de “speed food”), as salas contiguas levam a filas enormes que se misturam e se bifurcam entre as direcionadas às bilheterias e às portas de entrada, e ainda por cima há um data show projetando comerciais antes dos trailers(um monte deles) que primam pelo mau gosto. Em casa o DVD traz cinema que se quer (a Imovision chega a ter o slogan”Você leva para casa o filme que você gosta”- certamente um auto-elogio maroto, extremamente discutível) e quem tem aparelho de televisão de mais de 40 polegadas pode ver o que quer no enquadramento original desde que não se limite às legendas que idiotas colocam muito abaixo do quadro, numa faixa preta (nada a ver com arte marcial). O processo é tão convidativo que se você quiser interromper a sessão para comer, beber ou visitar o sanitário pode apertar numa tecla que todo o elenco do filme fica esperando diretinho sem reclamos.
Lembro sempre do meu Cine Bandeirante, projetando filme de 16mm, levando para a garagem de casa os clássicos esquecidos dos exibidores comerciais. Engraçado é que as cópias destinavam-se às salas interioranas, obviamente também comerciais. Mas havia uma triagem mais lisonjeira com relação à Inteligência da platéia. Essa escola de cinema foi a minha, ao lado da leitura especifica e do treino com filmadora. Hoje eu posso reclamar do “conforto” do cinema servido como dependência de um centro de compras. Ali você adquire numa livraria um DVD de filme “de arte” e paga para ver filme migrado de vídeo-game. É o tempo moderno que Chaplin abordou no apertar de parafusos. E o que se deve fazer para não se desatualizar, ou virar tatu com o focinho enterrado, é fazer das tripas coração e enfrentar a fera. Eu enfrentei de forma explicita no domingo em que fui ver os X-Men. Lembrei dos gorilas do tempo de ditadura. Acontece.O passado sempre aflora quando se soltam os cães interiores de certas pessoas.

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