sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cinema Privado

Vejo em casa a média de 2 filmes por dia. Em DVD naturalmente. Alguns ajudam no sono. Prefiro ver as coisas chatas de tarde. Nesse período aturo até um Godard. Por sinal que vi o documentário “Godar e Truffaut: a Nouvelle Vague”. Interessante mas omisso. Focaliza muito Jean Pierre Léaud, ator em filmes dos dois mas não mostra nenhuma entrevista dele. E não explica bem o “estilo” adotado por Godard, passando pelo seu tropismo vermelho quando propagou as idéias de Mao Tse Tung.
Truffaut era doido por cinema e fazia filmes que gostaria de ver. É do time de sonhar filmando, aquilo que em “Sonhos de um Sedutor”(Play It Again Sam) Deanne Keaton critica Woody Allen dizendo que ele é “um espectador da vida”(pois prefere ver tudo numa tela ao invés de visitar lugares). Eu sou desse grupo. Por isso gosto de ver o que Truffuat fez (mesmo assim há alguns títulos chatos). Godard nunca me atraiu. Ele diz, no documentário, que não gostou quando seu primeiro filme fez sucesso popular e passou a trabalhar para mudar esse conceito. Fazia e faz o que não se gosta. Cinema para ele é motivo de matar a cabeça. Nunca um prazer. E nisso vai pelo ralo a definição de que arte é o belo.
Um filme ultra modesto, “O Sal da Terra”(Salto of the Earth/EUA,1954) só agora chega ao Brasil (e em DVD). Trata de uma greve de mineiros no Novo México. Esses operários são todos de origem latina. Há preconceito para dar e vender. Humilhados, os mexicanos, em maioria, resolvem grevar. Mas os patrões da mina apelam para a violência. Eles são presos e proibidos de continuar a greve. As mulheres tomam a vez. Desafiando a cultura machista de então. Algumas levam os filhos para um desfilme adiante da mina onde os maridos trabalham com risco de vida. A coisa piora quando os anglos resolvem tomar as casas dos mineiros, todas em propriedade da firma. É a hora de um mutirão de solidariedade.
O filme andou vetado nos EUA por se achar “comunista”. Imagino ele projetado na época do macarthismo. Mas acima de tudo é um drama humano bem focado. Poucos atores profissionais estão no elenco e dentre eles a extraodinária Rosaura Revueltas.Ela me lembrou a Falconetti do “Joana D’Arc” de Dreyer. Um de seus closes faz lagrima em pedra. Por sinal que o filme comove. E ensina que cinema para coração e mente não precisa ser piegas nem cerebral. O diretor chama-se Herbert J. Biberman (1900-1971).
E vi “Burlesque”, que perdi (propositadamente) no cinema comercial. Ganhei ficando em casa. Da primeira seqüência se advinha as outras. Cher é a dona do cabaré onde a mocinha (Christina Aquilera) vai atuar. A estrutura do roteiro(o próprio diretor Steve Antin) lembra “Cabaret” de Bob Fosse. Mas a lembrança piora a cotação. O filme dista léguas dos musicais americanos dos anos 30/40/50/60 e a linha dramática é tão frágil que nem dá para....rir.
Vi também “Becket, o Favorito do Rei”(Becket) de Peter Glenville. Teatro filmado que dá asas a Peter O’Toole como Henry II. O Becket de Richard Burton é passível de critica. O ator devia ter tomado umas e outras no set. Só convence quando tem de ser ríspido encarnado no arcebispo de Canterbury. Já O’Toole está à vontade. É um ator de recursos imensos que esteve varias vezes no pareo do Oscar e só recebeu um honorário. O filme é uma superprodução que troca a ação pela densidade dramática da peça original (de Lucienne Hill). A autora ganhou um Tony(premio de TV)em 1961.”Becket” foi a sua vez nos palcos.

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