domingo, 6 de novembro de 2011

Filme de Festival

Quando eu aprendi fotografia de cinema com Fernando Melo havia um pavor da contraluz (“dá um borrão na imagem”) e do abuso da câmera manual (tremor do quadro era defeito). Hoje essas coisas fazem parte da linguagem cinematográfica normal. Aliás, na época eu via (e estava certo) que a objetiva era o olho e o diafragma as pestanas.Não se pedia uma profundidade de campo com diafragma fechado. Desconfiava-se da luz artificial. Eu quebrei esse tabu quando filmei um interior usando diafragma f-4,5 e um filme sensível . Bem, a sensibilidade (asa)era primordial. Hoje se grava(não se “filma”) com câmeras digitais sem se dar bola para abertura de lente ou mesmo distancia focal (antes usava-se telêmetro).
A evolução técnica levou a experimentos que muitas vezes desafiam a postura de ver cinema – ou a educação ganha em anos adiante de telas. Um filme como “Tio Boonmee Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” é o reverso do que se aprendia. E do que se via. O diretor que pede ser conhecido como Joe ( o nome dele é impronunciável no português:Apichatpong Weerasethakul) agarra-se à cultura de seu país, a Tailândia, e não conta bem uma história: divaga sobre um velho doente renal que vê gente morta. Cada plano esquece de sair da tela, a luz é parcimoniosa, os atores demonstram preguiça, enfim não há ritmo. Tudo é para se meditar. E são mais de duas horas de “meditação”. Um sacrifício suportar numa poltrona de cinema e invariavelmente uma sessão com hiatos na telinha de casa.
O “tio” do Joe ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Vai chegar por aqui. Já me chegou em DVD. Sei que alguns colegas da critica vão elegê-lo um dos melhores do ano. Tudo bem, cada cabeça uma sentença. Mas não é este o cinema que eu aprendi a fazer e amar. Se o melhor dessa arte é essa morosidade charadistica, eu passo. Não gosto de “cinema de festival”: sou um sonhador ou um “espectador da vida” como Diane Keaton chamou Woody Allen em “Sonhos de um Sedutor”(Play ir again, Sam).

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