sexta-feira, 19 de abril de 2013

Esquecimento Providencial

Sempre gostei de ficção cientifica. No cinema, antes de “2001 Uma Odisséia no Espaço”era, quase sempre, produto B no olhar da grande industria. Mas é nesse enquadramento que ficaram obras perenes como “O Dia em que a Terra Parou”(1951), “O Incrível Homem que Encolheu”(1956) e até alguns monstros como as formigas de “O Mundo em Perigo”(Them). Lembro de poucas produções de grande porte que abordaram, por exemplo, viagens espaciais. “O Planeta Proibido”de 1956 foi uma delas. E era inteligente. O monstro vinha da cabeça de Walter Pidgeon. Hoje há um abuso. Confunde-se sci-fi com aventuras ligadas aos quadrinhos de super-heróis. A maioria carece de imaginação. Por isso o roteiro de “Oblivion”me chamou. Terra devastada por guerra nuclear, inimigo suposto como remanescentes dos que guerrearam, humanos deslocados para o espaço, enfim aquilo tudo que se viu na excelente animação “Wall E”. Mas o pessoal foi além. O principal personagem, interpretado por Tom Cruise, começa sonhando (em preto e branco) com uma Nova York antes da guerra e com a garota que lhe chama a atenção na rua. Seria logo a sua mulher. Mas a realidade focalizada é um futuro onde ele e uma(outra) companhia feminina imposta por autoridades de quem se sabe pouco, vasculha o deserto que restou das grandes cidades e quando acha a garota do sonho conscientiza de que os vencedores da guerra são, na verdade,opressores de um mundo novo onde ainda existe gente como a gente. Vai tudo bem na história até que o herói lute com um outro eu, ou seja, com um piloto de nave espacial que é ele mesmo. Sonho? Mistura de tempo? Materialização do ego? O rapaz briga sem comentar que o inimigo é a sua cara. E no fim da historia, quando ele salva o mundo detonando a estação espacial onde moram os opressores, vê-se que ele volta, apesar de ter se sacrificado na explosão, acenando para a mulher e já uma filha.Quem é quem ? Batman, há pouco, detonou uma bomba atômica no mar e numa sequencia posterior vê-se Bruce Wayne tomando num café. Licenças que podem ser até consideradas poéticas, podem dispensar explicações. Mas se a licença arranha “happy end” a coisa complica. “Oblivion”, que quer dizer esquecimento,pode se enquadrar na amnésia de alguém ou de uma população. O esquecido ganha forma como se um sonho se materializasse. Beleza, mas a exposição dessa extravagância requer, em cinema, uma forma correspondente. Alian Resnais é mestre nisso. Joseph Kosinski , diretor e co-roteirista do filme(roteiro de William Monahan, Karl Cajdusek e Michael Arnd baseado num quadrinho dele), não contraria um grande estúdio fazendo cinema-cabeça. E se ele resiste em explicar quem duplicou Tom Cruise deu, afinal, um passo adiante na sci-fi do varejo. Seu filme é diferente. Ainda bem.

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