segunda-feira, 1 de abril de 2013

A Hospedeira

A voz da consciência põe o Grilo Falante a brigar com Pinóquio. Mas a et que invade o cérebro de uma jovem humana em futuro distante quando os irmãos dela já estão quase todos dominados pelos espíritos vindos do espaço não é ordeira como o tipo criado por Carlo Collodi. A “invasora”quer dominar o que resta da dona do corpo. E o pior é que a dona do corpo gosta de um rapaz e invasora passa a gostar de outro. Ambos humanos não contaminados. Esta é a base de “A Hospedeira”, historia escrita por Stephenie Meyer filmada agora por Andrew Niccol. Meyer é aquela norte-americana que vendeu vampiros amantes na serie “Crepúsculo”. Deve ter pensado que o mesmo público gostaria de namorados interplanetários. Mas escolheu mal o co-roteirista e diretor. Niccol é dos raros cineastas americanos de hoje com imaginação demonstrada. Seu “Gattaca” viu a seleção pelo DNA, seu “Simone” viu um romance virtual e seu roteiro de “O Show de Truman” viu um Big Brother com jeito de Big Mother in Law. Niccol privilegiou a sci-fi e deixou cenas como uma retirada de alma com a remessa dessa alma para o espaço profundo. Poesia mesmo. E se vê um rosário energético passando de mão em mão para ganhar guarida numa espécie de ovo metálico que deve usar magnetismo para se impulsionar rumo às estrelas. Niccol também subtraiu as sequencia de sexo. Fala-se em beijos, não se fala em cama. E se um corpo liberto de um parasita extraterreno acha o seu namorado bem terrestre(até morando no fundo da terra) há a licença da invasora desejar um amiguinho dele como uma espécie de sinal verde para o acasalamento de espécies. Aliás, no início do filme uma voz diz que a Terra passou a ser um mundo sem pecados depois dos seres do céu se apossarem dos corpos dos pecadores. Radicalismo religioso evocado. Com as imagens deixando muito mais a ideia de que as pessoas são naturalmente flexíveis, e que as sociedades, mesmo as “perfeitas” posto que de outros mundos, podem se “corromper” adotando a moda terrestre. Há detalhes pitorescos: os invasores deixam nos corpos olhos azuis. Os mortais vivem em caverna como seus longínquos ancestrais. O céu de quem está literalmente no fundo do poço é um ninho de vagalumes que não piscam. “A Hospedeira”(The Host) é isso: cinema forçando caminho entre a pieguice literária. Não consegue se libertar totalmente mas pelo menos deixa a pista de que o cocô pode virar diamante se metabolizado seu carbono...

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