segunda-feira, 26 de junho de 2017

O Circulo

                Quando o próprio escritor de um livro escreve o roteiro de um filme que aborda este livro é indesculpável certas gafes. O caso de Dave Eggers e seu “The Circle”(O Circulo), cartaz dos cinemas brasileiros nesta ultima semana de junho.
                A ideia básica tem a ver com  “Snowden” aquela historia do nerd que inventou um modo de penetrar a internet na vida das pessoas, ou seja, rifar a privacidade. Aqui é uma organização fictícia que apresenta uma pequena câmera capaz de ser produzida aos montes e de forma barata (parece um caroço ) capaz de monitorar tudo e todos desde que colocada em locais hábeis. Essa organização, chamada “Circulo”, emprega uma jovem que precisa de amparo com o pai doente (seria esclerose múltipla sem que o quadro exposto satisfaça) e a mãe sem meios de manter a família. Esta jovem fica sabendo dos pros e contras do projeto, os contra através de um técnico que trabalhou no inicio da coisa e hoje critica o resultado mantendo-se como um fantasma no subsolo do prédio onde funciona a base do tal circulo. A garota , que costuma passear de caiaque no rio próximo, sempre roubando os barcos, ganha a simpatia dos seus superiores mas acaba por assumir uma postura critica quando vê morrer seu namorado graças ao processo de bisbilhotara vida dele. Mesmo assim, mesmo dizendo que as câmeras devem penetrar nas contas bancárias de seus chefes, ela volta a um caiaque e o ultimo plano do filme é um painel de imagens captada pelas câmeras indiscretas,uma delas com sua própria imagem sorridente
                O roteiro dança na exposição de um tema que salta de, por exemplo, o “1984” de George Orwell . Também foi abordado em “Brazil” de Terry Gilliam. Nesses casos, até pelo tempo de edição, a falta de privacidade ganha um tom critico. No filme de agora, dirigido sem inspiração por James Ponsoldt, de filmografia pequena, o conteúdo polemico passa como uma aventura de mocinha de classe média-baixa que ambiciona uma posição na escala social e não demonstra interesse pelo  efeito colateral de seu novo trabalho. Mesmo à custa de um romance que se mostra extremamente reticente a ponto de não se dimensionar até que ponto a moça (Mae/ Emma Watson) gosta do namorado.
                Tom Hanks aparece pouco como um dos donos do projeto técnico. Quem está em quase todos os planos é Emma Watson, fancesa que se deu bem em Hollywood com a série Herry Potter e este ano chegou a ser a Bela da nova versão (ou Disney version) de “A Bela e a Fera”), É tanto enfoque de Emma que cansa quem (a) vê. E o esforço da atriz apenas contabiliza a fraqueza da trama, dando a entender no final contraditório que ela prefere continuar roubando caiaques e que se f... as criaturas espiadas (ela inclusive) pelas objetivas de espionagem montadas pelos donos de dólares.
                Acompanhar a narrativa é fácil, a produção se dá ao luxo de um auditório imenso (que por sinal se repete em mais de uma sequencia) , mas a ideia interessante de se denunciar um esquema imoral não chega a enfatizar que o tal esquema  continua com toda a amostragem de que é nocivo. Chega a ser desperdiçado um fato de que as câmeras bisbilhoteiras só respeitam os sanitários. Poderia dizer que só quem se livra do espião de suas vidas é quem está cagando... (ou, inadvertidamente, de que o filme, para ser projetado, precisa ser uma merda).

                Afinal ninguém sai do cinema sabendo o que mr. Eggers quis dizer. Pode ser que advogue a ideia de que as grandes manobras cientificas, desde que amparadas na politica dominante, são invencíveis. E nem se coloca a imagem de Batman nas nuvens da cidade-ou se mencione a eleição de Trump.

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