Em 1941 Albert Camus escreveu sobre Sisifo, o personagem da
mitologia grega que carregava uma pedra para cima de um morro e sempre ao
chegar perto do objetivo a pedra rolava e ele era obrigado a repetir a façanha.
Desse modo o tipo vivido por Javier Barden em “Mãe”,o filme de Darrel Aronovsky,
é um poeta que se inspira na mulher-musa(Jennifer Lawrence, sérias candidata ao
próximo Oscar), aliada à sua casa, que de inicio se vê destruída(e a mulher
queimada)para ressurgir tudo quando precisa se re-inspirar.
O filme
foi construído de forma que as imagens reflitam a construção da poesia desde a
quebra da inspiração no inicio, a retomada dessa inspiração no quadro de um lar
padrão, e a gradativa derrocada das imagens com a inserção de diversas personagens,
até que tudo se desmorone (há até um plano dele abrindo o corpo dela para lhe
tirar o coração –afinal a imagem de um diamante que se vê no inicio da trama).
Como Sisifo, ele volta a se inspirar –e o filme parece ter sido um sonho da “Mãe”
que acorda, como antes, procurando pelo marido na casa aparentemente incólume.
Construir
e reconstruir é a formula do autor, no caso do poeta, que sempre tenta levar
sua obra ao píncaro (daí a exposição da vaidade em se deixar levar por uma
multidão de jornalistas- até matadores de seu filho). Mulher-mãe é sempre uma
figura subordinada ao que Ele(e o poeta se quer se chamar assim) programa/faz.
Um
filme denso e muito criativo, inspirando-se em vertentes literárias para fazer
ver a construção penosa de uma obra de arte.
Também, meu pai, chamou-me a atenção as constantes passagens bíblicas. Que vão da expulsão de Adão e Eva, passando pelo nascimento e morte de Cristo. E Deus pai, seu autor e poeta, reconstruindo a existência em uma teia de amor. Lindo filme. Para mim, ela era a mãe terra, que cuidamos tão pouco.
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