segunda-feira, 28 de março de 2011

Porradoterapia

Zack Snider, o cineasta que cometeu aquele terrível “300” e o não menos terrível “Madrugada dos Mortos”, resolveu escrever seus roteiros e com isso fazer um “filme de autor”. Para não perder o prestigio na Warner (seus blockbuster renderam o bastante para colocá-lo no altar dos diretores benquistos pela indústria) imaginou uma história em que a chance de cinema introspectivo desse espaço ao carnaval de CGI com muitos extras e a linha de vídeo-game acoplada a gibi modernoso. Saiu este “Sucker Punch” ora em cartaz. Uma salada em que entram elementos de psicologia usada para alunos do primeiro grau e muita fantasia coreografada com a técnica de vídeo-game. Pensando em cinema é como misturar “Garota Interrompida” com “Tomb Ryder”. Para isso o roteiro abre duas frentes: uma realista, seguindo uma jovem órfã e herdeira de mãe que o padrasto persegue e na hora da vingança contra ela acaba matando a mana pequena, indo por causa disso parar num manicômio com o parente vilão incentivando (a peso de dólar) a lobotomia,e uma de sonhos(o surrealismo pretenso) em que a moça procura fugir de sua situação imaginando um cabaré onde as colegas de enfermaria participam de uma jornada pela fuga atrás de 5 elementos sugeridos por um tipo misterioso. Para achar cada elemento (e lembrei aquelas relíquias que Harry Potter tem que descobrir para vencer o vilão de sua vida) as meninas (que a gente só conhece bem nos sonhos da colega e não nas camas do hospício) vivem aventuras em que os efeitos óticos tomam força.
Snider pensou que a sua proposta de visualizar sonho de mocinha agoniada casaria o cinema denso de Antonioni com o que já havia feito, especialmente aquele carná em que o conterrâneo Rodrigo Santoro desfila em carro alegórico como rei persa. Seria um modo de se mostrar intelectual e sempre comerciante. Misturou tanto que não explicou nem mesmo como as heroínas se juntaram na cabeça da colega. E se não fosse preciso isso, ou melhor, se tudo fosse surrealismo, não seria necessário o prólogo sem cores e especialmente um final “literário” em que um discurso implica na responsabilidade de todos nós pelas desgraças alheias (não é bem o obvio ululante, mas é uma pretensão irritante).
O bom é que o filme pode ser visto do principio ao fim. Engana na abertura, com a imagem contando a história, sem uma só fala. Mas quando começa as peripécias das mocinhas de gibi é pé no saco. Dá vontade da gente entrar na tela e entregar para as garotas as peças que precisam para fugir da forma de prisão. E o cineasta é tão comerciante que escolheu gurias esculturais para o seu bloco de doidinhas.
Ah sim, “sucker punch” quer dizer “porrada”. Em quem ?

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