Não é mais o Bandeirante, meu cineminha de porão de casa com filme-pelicula de 16mm. É DVD na sala, em TV de 42 polegadas. Faço duas sessões por dia. Vejo e revejo o que já tinha como perdido no tempo. Dessa safra antiga o “Cisne Negro”(Black Swan)de Henry King (1943). Tenho certeza que na locadora muita gente vai pensar que é o novo cine-ballet com Natalie Portman. E reclamar depois, como aquela senhora que ficou pê da vida quando levou para os seus filhos verem “Beethoven” de Abel Gance pensando que era uma aventura de cachorro. Quando reclamou a atendente mostrou-se surpresa: “- A senhora tem certeza de que não tem cachorro?”
“-Tenho minha filha. E tem mais: é fita velha em preto e branco”.
Pois é: “O Cisne Negro” lançado agora é uma aventura de piratas que andou pelo Olímpia nos meados dos 40. Tyrone Power faz o corsário que vira pirata (explico:corsário rouba para o rei, pirata para seu bolso) e depois prefere casar com uma nobre inglesa jogada na Jamaica. Há muitos planos abertos com os atores representando de corpo inteiro. E ainda não tinha chegado o cinemascope. Quando a largura do quadro exigia menos cortes, e planos próximos era comum ver um modelo de teatro. Isso é estranho nos anos 40. Mas cômodo. E as caravelas são miniaturas. Claro, pois a Fox,produtora,não ia gastar tanto botando navios de verdade em suas piscinas. Como a garota renitente que o machão dobra está Maureen OHara antes de ser puxada pelos cabelos por John Wayne em “Depois do Vendaval”. Maureen ainda vive, hoje com 90 anos(fará 91 em agosto).É irlandesa e como tal não dá pista de ser pau de manobra. Mas o cinema provoca. E paga. O filme com Ty Power vem de uma história boba e uma direção preguiçosa.
Outro programa antigo : “Até à Vista,Querida”(Murder, My Sweet/1944). Dick Powell é o detetive Phillip Marlowe de Raymond Chandler. Quem dirige é Edward Dmitryk. Narrativa ligeira na linha dos contos de Chandler. E muita trama, muita confusão, Na tela pequena é difícil acompanhar. E o cinismo dos tipos como Marlowe morre no meio do caminho. Há pouco humor e muita coincidência. Nunca fez meu gosto. Não gostei no Bandeirante e repeti a impressão.
Melhor ver “Homens em Furia”(Stone), com Robert De Niro caindo nas malhas de Mila Javovich, no caso a mulher de Edward Norton que quer soltar o marido e providencia uma transa com o delegado em vias de se aposentar (e casado há 43 anos). O filme dirigido por John Curran foge das armadilhas do gênero. O que se espera, como uma tragédia pela infidelidade do “tira”, não chega fisicamente. Resta um tom moral que ele diz ao detento (que ele ajuda a sair da cadeia) ameaçando-o com um revolver: “-Você arruinou minha vida”. Mas não existe “bad end”. Ninguém morre. O tom é de introspecção sem chatice. Vi de um fôlego.
E gostei muito de “Um Burguês Muito Pequeno”(Um Borghese Piccolo Piccolo/1977) de Mario Monicelli com Alberto Sordi. O roteiro mostra que a violência tem efeito dominó. Vendo o filho único ser assassinado ao seu lado, o velho contabilista entra em parafuso. E aperta de vez a vida quando a mulher não suporta a tragédia e vai atrás do jovem que desejava seguir a profissão do pai. Monicelli começou fazendo comédias com Steno. Muita coisa de Totó. Mas quando ficou só, deixou fluir seu tropismo pelam amargura. Este filme de 1977 é cruel. Mas extremamente bem feito. Choca por saber demonstrar que no cinema há espaço para um comediante como Sordi fazer lágrimas e não apenas sorrisos.
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