sexta-feira, 4 de março de 2011

Desconhecidos

O filme “Desconhecido”(Unknown) do espanhol Jaume Collet-Serra, inspirou-se no “Busca Implacável”(Taken) de Luc Besson & Pierre Morel e também em”Busca Fernética”(Frantic) de Roman Polanski. Na verdade lembra uma porrada de filmes de espionagem. O que mais interessa como diversão é o inicio, com o homem saindo do coma sem documento (devia estra também sem lenço, como no samba) e sem mulher (a dele ficou na portaria de um hotel).O pior é que passa a conhecer um cidadão que se diz ele, ou melhor, possui a sua identidade em documentos comprobatórios. Do meio para o fim o enredo vira de ponta cabeça e quem é herói passa a ter a sua quota de vilão. Mas no cinema moderno vilões são os verdadeiros heróis como bem disse o desenho “Megamente”. E Liam Neeson tem cara hibrida, pode caber muito bem nos dois papéis.
Quem busca profundidade nos filmes bate no fundo da piscina. Tudo é raso nesta aventura de Hollywood ambientada em Berlim.
Mas o que me interessa agora é que alguns filmes que estou conhecendo em DVD, assinados por queridinhos da nova critica como Todd Solonz, tentam furar a rede da “teia global”(ou “aldeia” segundo McLuhan) expondo um cenário nada agradável ao paladar ocidental cristão. “Amor em Tempo de Guerra”(Love During War)é um exemplo dessa linha. Focaliza diversas pessoas de uma família e todas primam por caracteres doentios. O marido é estuprador de todas as idades e gêneros, a mulher diz que se sentiu “molhada” quando um viúvo lhe tocou o braço, o filho mais velho precisa afirmar ao pai que não é gay nem gosta de criancinha, satisfazendo a curiosidade do “velho”sobre recessão genética, e o mais novo tem medo de ser aliciado por algum colega, perguntando à mãe como é que “se violenta homem”. Sobra a patologia de uma irmã da madame que vê os fantasmas dos homens com quem manteve relações intimas. Todos lhe pedem a vida, mas ela diz que deseja viver. O comportamento, no entanto, lembra uma bruxa de conto de fadas.
Solonz, roteirista e diretor, narra bem a sua (ou as suas) história(s). Os tipos convencem. Mas a conclusão é doentia. O grande público que se alimentou anos a fio do cinema pudico do Código Hayes, da proposta industrial que visava um circulo vicioso entre o sonho maior das massas e o consumo para que não deixe de sonhar, sente repulsa ao que vê. Seria saudável se a quebra da fantasia comercial abrisse caminho para a reflexão através de uma proposta realista. Não é o que acontece. Solonz não quer realismo: quer a idéia de que se deve duvidar de tudo, que a busca da felicidade é mais do que uma quimera: é uma infantilidade crônica. No seu modo de julgar, o adulto que vai a cinema é a vitima de um embuste capitalista que precisa refazer o seu conceito de mercadoria. Mas qual é a alternativa? O cineasta não aponta. No fim do filme a criança fala que defende a democracia, mas no momento quer saber primeiramente de seu corpo, de sua afirmação como heterossexual. Como outros tipos mostrados, quem não segue um padrão físico torna-se vulnerável a fantasmas assassinos. Uma forma de dizer que a morte persegue os tipos considerados comuns. E se entrar naquele silogismo torto de que “a vida é o conjunto e fatores que resiste à morte”. Francamente, prefiro as comédias antigas em que se brincava com fogo sem queimar ou se mascarava o mundo mesmo sem ser preciso o tecnicolor.

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