quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Doador de Memorias


            A moda atual da indústria cinematográfica norte-americana é adaptar livros dedicados aos jovens e que fizeram boa carreira nas livrarias. Depois de “Jogos Vorazes” e “Divergente” chegou “O Doador de Memórias”(The Giver),este mais pretensioso na abordagem filosófica, arranhando um possível engano.

            Tudo bem que eu achei o filme bem realizado Não à toa que Meryl Streep aceitou fazer uma ponta e Jeff Bridges ter brigado para sair um projeto que estava na mira de seu pai, Llloyd, e a Warner protelou. Mas a ideia de uma sociedade pacifica embora extremamente controlada passa como uma trágica opção para os males do mundo. Reparem: no sistema político & social do filme as pessoas tomam todos os dias uma injeção para não ter memória. Daí se parte para a ausência de mentiras, a consequente inveja atiçando o ódio,a ausência de partidos, e processos bizarros como a hegemonia física a partir do nascimento, com as crianças concebidas em laboratório(ah sim, não há sexo) selecionadas por técnicos que observam do peso ao comportamento(muito choro por exemplo), e a deportação dos idosos para uma estação que ninguém explica como é que é (certamente uma sala de espera da morte).

            O doador de memórias é uma autoridade que passa por um treinamento. O treinador é um velho que consegue lembrar o passado ou o tempo antes de estabelecida a sociedade hegemônica. Ele mostra ao jovem doador como se comportava o homem com o chamado “livre arbítrio”. A morte de um elefante é dramática. Mas o pior são as guerras, os massacres de mulheres e crianças, enfim o lugar comum de um mundo que não se emenda.

            Apesar de se ver que antes era pior, o filme acaba dizendo que a atualidade é ainda mais abominável. Não passa alternativa: ou o homem aprende a viver junto com outro deixando que se molde suas ideias ou prossegue na crueldade.

            Sei lá, mas os nazistas pensavam assim. Hitler propunha um milênio de prosperidade a partir de uma Alemanha que saía das cinzas de uma guerra, atacando os “vilões” que começariam com os judeus donos das grandes industrias e bancos. Por outro lado, Stalin tentou o comunismo utópico onde se fazia um crivo social deportando ou matando os indesejáveis. No filme de agora há um plano do menino chinês defronte de um tanque, celebre momento de protesto ao governo fechado de Mao Tse Tung. Em suma: a utópica cidade & estado de “O Doador de Memórias” seria o superlativo dessas ditaduras com um resultado mais evidente posto que acobertado pela ciência (esquecer, por exemplo, é uma forma de manter a paz entre heterogêneos).

            Claro que o roteiro ou o livro original prega que o heroi da historia termina saindo deste glorioso inferno e respirando aliviado numa cabana depois de andar quilômetros no gelo(tudo metafórico). Ele carrega um bebê desprezado que simboliza o protesto ao estado de onde veio. E aí ? A namorada que fica (e escapa de ser eliminada por desobediência) pode escapar dos ditadores pois, uma vez ultrapassado um limite do mundo sem memória, tudo volta ao que era antes e as pessoas passam a lembrar de suas situações (ou aberrações).

            A ideia não tem respaldo critico e por isso é tão virulenta quanto a caçada humana de “Jogos Mortais”(uma terrível amostragem do jogo de empurra entre a caça e o caçador) e ainda os que não devem ou não podem ser diferentes em “Divergente”.

            Não é de agora que o futuro do mundo é visto na forma de pesadelo. George Orwell mostrou em “1984” a sociedade dependente de um “grande irmão” que de posse da tecnologia penetrava nos lares e punia quem desobedecesse as normas estabelecidas. No cinema houve “É Proibido Procriar”(Z.P.G./1972)onde o escritor Frank De Felitta(de “As 2 Vidas de Audrey Rose”)tratava de um tempo&espaço onde o casal estava proibido de ter filhos até que se nivelasse a população . Resumindo eu acho que poucos livros e filmes olharam o futuro como um tempo bom. A ideia é de que o homem não tem capacidade para manter um relacionamento estável com o semelhante. No fundo está o que o filme “Lucy”evocou: a capacidade dos neurônios não chega à metade do que estas células cerebrais podem produzir. Seria aquela historia de que a evolução preconizada por Darwin ainda está longe de parar. Daí os profetas do caos. Em termos de cinema é aquilo que encerra o “2001” de Kubrick & Clarke: é preciso o ser humano involuir até se transformar num feto e assim voltar à Terra devidamente produzido para ser o super-homem (não de Shuster & Siegel mas o de Nietzsche).

4 comentários:

  1. Dr. Pedro essas adaptações de livros voltados para o público jovem term atraido par ao cinema uma turma que por diversas razões estavam afastadas da tel grande, Isso par amim é excelente.

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  2. De fato a turma jovem está prestigiando. Vi/ouvi gritos de garotas em momentos de "Maze Runner". Mas se a resposta é interessante num "A Culpa é das Estrelas",onde o câncer é o inimigo, as temáticas apocalípticas dúbias podem gerar uma admiração mórbida a sistemas totalitários ou uma simples rebeldia sem analise do tema. O caso de "O Doador..." onde se estratifica o regime totalitário nas formas que em realidade geraram pesadelos reais (o nazi-fascismo por exemplo).

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  3. Dr.Pedro mas por outro lado, se pode mostrar que nenhum o grupo não pode dominar o outro seja, de maneira politica, cientifica ou social.

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