Muitas vezes, vendo os filmes de Lars
Von Trier, penso como Shakespeare: “há algo de podre no reino da Dinamarca”.
Felizmente vi em DVD “Departamento-Guardiões de Causas Perdidas”(The Keeper of
Lost Causes na versão de exportação). Quem dirige chama-se é Mikkel Norgaard.
Um “noir” de roupa antiga, a lembrar o que John Huston fazia. Um policial em
fim de carreira é guinado a um departamento de processos em aberto, com a
obrigação de selecionar 3 por dia para arquiva-los de vez. É aí que acha o caso
de uma jovem desaparecida e se mete a investigar abrindo espaço para outros
crimes que nem haviam sido catalogados.
O filme tem narrativa direta, sem a
frescura que Trier usou no que chamou de Dogma. Nada de cerebralismo, usando-se
prudentemente câmera, iluminação e corte. O tipo do filme que a gente vê sempre
com atenção. Mesmo porque nada apresenta de gratuito. Cada plano tem razão de
ser. Isso é cinema.
Também aplaudi em DVD “Em Busca de
um Lar”(Gimme Shelter) de Ronald Krauss. E aplaudi por conta de Vanessa
Hudgens. A atriz que na época da realização tinha 24 anos, faz a sofrida Apple,
garota de orfanato embora com mãe viva, rebelde com causa e que procura o pai
rico (Brendan Fraser) mas não se acostuma na casa dele. Grávida, acha por bem
ter o filho(no caso uma filha) contra a vontade da madrasta(que mal conhece).
Nada de melodrama. Joga uma fachada
realista na cara de Vanessa, com tatuagem no pescoço(é de verdade),piercing,
fala repleta de gíria & palavrão, postura irrequieta e procurando esconder
uma gravidez sem pai definido. A jovem atriz é realmente uma revelação, e
curioso que tenha vindo da musica (High
School Musical), onde atua com frequência.
Não conhecia nem Vanessa nem Krauss.
Bendito DVD que traz cinema a quem mendiga cinema (nas salas de tela grande
isso é exceção).
E para terminar a festa revi “Coração
Prisioneiro”(Caught) um Max Ophus(que assina Opus)americano com James Mason
estreando em Hollywood e Barbara Bel Geddes como a mocinha pobre que caça um
marido rico em Robert Ryan mas se dá mal._
Este não tem ambição de sair do
melo. Mas Opuls dá um show nos enquadramentos, com a profundidade de campo
mostrando o que é importante na síntese por fotograma, como o enfoque do
milionário ao longe, numa sala, deixando que se veja a decoração, e a garota
num espaço pobre também definido pela amplidão da imagem com ela num pequeno
espaço. Isto, volto a dizer, é cinema. O filme é de 1948. Vence o tempo
tranquilo.
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