segunda-feira, 7 de março de 2011

Rango é o Superlativo de Django

O western é um gênero cinematográfico muito rico. Quem acompanha cinema desde o tempo em que ele não falava sabe de cor e salteado como eram os cow-boys, os bandidos, aquela “mágica” de brigar sem deixar cair o chapéu, aquelas caras fechadas que povoavam os “saloons”, o deserto ao lado (e o Monumental Valley preferido de artistas como John Ford), enfim, um relicário da infância de muita gente dentro e fora da cultura norte-americana.
“Rango” de Gore Verbinski & John Lugan é uma antologia dessa fantasia histórica. E vai além do cenário por onde transitavam Tim Holt, Gene Autry, Charles Starrett, Roy Rogers, e gente mais pé no chão como o Ringo de “Stagecoach”(No Tempo das Dilgencias”) ou o xerife que vê os amigos se esconderem quando os seus presos saem da cadeia para tirar forra (Gary Cooper segurando Oscar ). O novo filme se apega à imensa bagagem do gênero para abraçar todo o volume cine-cultural ianque, dos vilões de Frank Capra(especialmente o banqueiro paralitico de Lionel Barrymore em “A Felicidade Não se Compra”) aos vaqueiros que estiveram na Europa vestindo outra roupa e voltaram exibindo uma nova indumentária (Clint Eastwood, dentro e fora da Itália onde fez “spahghetti western”, referencia a ponto de Rango rimar com Django).
Há tanto o que ver em pouco mais de hora e meia de programa que a gente se espanta. Um enfoque do xerife na rua larga esperando o bandido, com as botas de ambos em primeiríssimo plano e um relógio de parede batendo 12 horas, é “Matar ou Morrer”(High Noon- Meio Dia). A carroça em que a mocinha dirige com ímpeto e corta o deserto lembra aquelas heroínas das tantas “caravanas de bravos”. Por sinal que esta mocinha luta por sua terra como as modernas Annie Oakley a exemplo dos novos westerns, aqueles tão maquilados que pouco deixam ver da mitologia assistida.
Interessante até mesmo como os “mariachis” cantam a chegada e saída do herói camaleônico e como este, por ser assim, exibe a facilidade de se adaptar a ambientes inóspitos sem perder a pose. Mas há novidades. Uma serpente bíblica rende homenagem ao mocinho vencedor como se a má conselheira de Adão pedisse desculpas pela história da maçã (tanto que a redenção da turma boa se dá com um beijo de Rango e Beans/Feijão a garota brava). E que pintura o pessoal de arte achou para o oeste empoeirado... O crepúsculo que se associa ao do herói, desmerecedor da bandeira do pessoal da aldeia que reza “a esperança enquanto existir água”, é não só funcional como belo. Funcional porque inicia uma fase em que o personagem decai e se levanta com o dia. Belo porque poucos desenhos animados exibiram cores exuberantes e ao mesmo tempo funcionais.
Eu normalmente não vejo filme dublado. Mas arrisquei ouvir “Rango”. E enquanto espero ouvir a voz de John Depp dei-me por feliz . Assisti a uma obra-prima de um gênero que voou alto depois dos trabalhos da PIXAR. É o primeiro filme de animação da Industrial Light & Magic. Vai dar mais, pois esta semana ficou na cabeça do “Box-office” nos EUA. Merecidamente.

Um comentário:

  1. Deve ser o protagonista mais feio de uma animação
    Mas não por isso menos simpático, como exige a função
    Um camaleão metido a artista, que não sabe quem é
    Tal qual sua espécie, define: “posso ser quem eu quiser”

    Se depara no meio do nada, “Poeira” é nome sugestivo
    Com conversa fiada vira herói: “matei sete com um tiro”
    Daí parte o enredo, com sede, cheio de confusão
    Divide as atenções com uma caipira, seu par: Feijão

    A água é como petróleo: quem a possui tem poder
    Talvez complexo para um menor de 10 anos entender
    Algumas oscilações entre bom e regular: perdoáveis
    Cenas de ação e perseguição impecáveis, impagáveis

    No original, a voz de Johnny Depp é sem dúvida atração
    É ele quem dubla o principal personagem, o camaleão
    Não por acaso, nos Estados Unidos, é líder de bilheteria
    Em um fim de semana arrecada o dobro do que se esperaria

    Por ser infantil, claro, a lição de moral tem que existir
    Mentira tem perna curta e o herói tem que se redimir
    Adultos que gostam de animação podem ir sem problema
    Só uma sugestão: bebam água antes de entrar no cinema

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