Eu já tive um tempo de exibidor. Programei um cineclube atuante em várias frentes com cópias película de 16mm e 35mm e inaugurei o Cine Libero Luxardo (Centur).Por isso, e até porque fui sócio fundador dos cinemas 1 e 2 do amigo Alexandrino Moreira (além de ser marido da Luzia que chefiou a Embrafilme na região norte na virada dos 70 para 80), aprendi manhas da distribuição e exibição de filmes em salas comerciais. Bem verdade os tempos mudaram e hoje uma central de distribuição sabe da renda de uma sala em cima do lance. Antes a gente fazia relatórios (borderôs) e mandava para os donos dos filmes. Mas a mecânica de cópias prossegue. Com um adendo: hoje se tiram mais cópias. E ainda tem o recurso da projeção digital que se resume no envio das imagens pela internet com gravação no computador acoplado no projetor.
Os comerciantes do ramo sabem o que o público mais gosta. Ou paga para ver.Por isso a dieta de exibição é sempre de produções megalômanas de Hollywood onde o espetacular é moldado em informática. Raramente fazem experiências. O caso do filme de Woody Allen(“Meia Noite em Paris”) onde se testou a platéia intelectualizada e ela compareceu. Mas grosso modo os filmes mais densos são endereçados primordialmente ao DVD. E é por isso que o cinema caseiro, hoje em dia, é farto. O meu “Bandeirante 2”(o 1 era no porão de casa, com filmes em 16mm), funciona diariamente com títulos inéditos e rigorosamente bons.
Esta semana eu vi “A Última Estação”, filme inglês de Michael Hoffman que reporta,no pé de um livro, os últimos dias de Leon Tolstoy. Quem faz o escritor é Christopher Plummer.Nem de longe lembra o Barão Von Trapp de “A Noviça Rebelde”. Lembra mesmo a imagem que o autor de “Guerra e Paz” deixou em fotografias. A mulher dele, Sofia, é interpretada por Helen Mirren. Os dois repetiam a canção de Lupicinio Rodrigues:”...vivemos brigando....mas é melhor se brigar juntos do que chorar separados”. Quando o escritor está morrendo, o “muy amigo” Chercok (Paukl Giamatti) não deixa que o casal se veja. Cruel. Um filme que emociona.
Também emociona “Flores do Amanhã” de Zhang Yang. Aqui, através de uma família de classe operária vê-se as mudanças que se processam na China depois de Mao. O foco maior é um pai despótico. Mas amante incondicional da mulher e do único filho, um rebelde sem causa (ou por causa dos pais). No segundo plano surgem as avenidas, os prédios modernos, e o poder aquisitivo maior dos personagens. Menos do velho pai, que cisma em viver na mesma casa,prestes a ser destruída. Ele plantava girassóis e no final deixa a marca de sua presença através dessas flores. Nada de lacrimogêneo, mas tocante. Cinema não deve se envergonhar de ser sentimental nem a gente de corresponder a isso. Gostei muito.
Em compensação vi “Esposa de Mentirinha” e “Tambores Distantes”, novo e velho exemplares de um cinema de consumo. Ruim para cada tempo e perenes em sua ruindade.
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