terça-feira, 19 de julho de 2011

O Adeus do Bruxo

J.K. Rowlings foi abençoada com uma inspiração milionária ao rascunhar num bar de escala na viagem que fez para sua terra, Londres, a linha média do que seria a aventura (ou as aventuras) de Harry Potter. Saindo de um relacionamento frustrado, a escritora em potencial foi buscar subsidio para desabafar a sua sede de fantasia no que ouviu e viu(em cinema) na infância, como fez quase todo mundo que leu ou assistiu aos desenhos animados partidos dos contos de Grimm,Perrault, Andersen e outros que pescaram em seus folclores os entes mágicos.
Na literatura Harry Potter consumiu muitas páginas e no cinema sete filmes de longa metragem com o último dividido em dois como forma de ser mais próximo do original escrito. Penso que o herói está entre os mais cultuados do povo ocidental (e não meto a mão no fogo ao negar o oriental) nesta virada de século. E posso dizer que JK teve sorte no cinema. Os filmes de seus livros não voaram para muito longe de seus enredos e auferiram renda bastante para satisfazer os executivos da Warner e garantir uma aposentadoria milionária à autora.
“Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2”,ou como está num pôster “HP-7”, é um fecho bonito. Realizado com a pompa que os efeitos digitais patrocinam, exalta os poderes (quase mágicos certamente) da direção, da edição, da fotografia, do som, enfim do que se usou para se projetar.
E a história? Muita filigrana para chegar ao duelo final entre Potter(o Bem) e Lord Voldemort (o Mal).Claro que o Bem vai vencer. Mas a platéia suspira. Há um pré-climax com o herói feito morto. Mas o espaço no limbo, quando vê seu mestre Dumbledore, serve como uma experiência de morte em vida. Volta para enfrentar o inimigo cara a cara (ou mágica a mágica). Lembrei aquele desenho da Disney “A Espada era a Lei”. Não há como suspeitar que o lorde malvado possa sair ganhando. Ele chega até a arregimentar sua patota. Mas se desintegra como bom vilão de science-fiction (hoje os contos de fadas adentraram pelo estilo de tramas siderais). Suspiram aliviados os fãs. Mas os suspiros são, também, de saudades. Não é pior porque se abre uma brecha para replay. Potter e amigos deixam os filhos na rodoviária seguindo para a escola dos pais. Se duvidarem pode surgir em livro e filme a prole de Potter. E desse jeito salva a palavra de Radcliffe, o ator, que não quer ficar na história como interprete de uma figura única (o que pensava Sean Connery quando deixou de ser James Bond).
A estrutura narrativa rende-se aos encantos da magia. Trouxas são os que estão de fora. Uma edição prodigiosa dá o ritmo certo à dança de efeitos que pulveriza e reconstrói cenário (décor). Eu imagino como se faria um filme desses antes dos computadores. O orçamento estouraria mesmo com miniaturas expostas. Tudo o que se vê é produto de um trabalho industrial esmerado. Os que buscam substancia talvez achem que a bruxaria é a síntese da luta pela vida no mundo que muda. Os detalhes dos contos de fadas passam para os tempos modernos e só se faz esticar as malvadezas das bruxas, ou madrastas, e as habilidades dos gnomos ou das fadas. A cultura ocidental, com a sua bagagem de mitos, está ali representada. O que embalou o berço de Rowlings. E afinal o que deu alento a muitos meninos e meninas da era da internet que sentem necessidade de sonhar num mundo onde o sentimental é tido como careta e a violência como cool.
Gostei do filme, mesmo nunca lendo uma linha de JK e nem me colocando em fila para ver todos os títulos da série. A feição dark evidencia o dramático do entrecho. E fica bem os últimos planos não serem de festejos pela vitória de Henry. No lugar da folia o diretor David Yates, o mesmo de outros exemplares da série, prefere um plano da trinca amiga, como fazendo pose, seguindo-se um fade - out para 9 anos depois quando todos 3 já são pais e família (e de futuros bruxos).
“Henry Potter” conseguiu empatar com “O Senhor dos Anéis”no plano de cinema fantástico feito pela grande industria. Se Peter Jackson quer voltar a Terra Média com “Hobbitt”, espero que J.K. Rowlings, David Yates e a Warner deixem Hogwart na saudade de seus fãs . Nada de seguir a prole dos heróis. Ou de fazer “prévias”como agora se anuncia “O Planeta dos Macacos” de antes da macacada ser inteligente (com o físico de simio, pois tem muito humano com cabeça de macaco).

Um comentário:

  1. Pedro Veriano, adoro suas criticas de cinema. Li os livros de HP e digo que o último filme nada ficou a desejar. Adorei muito. Obrigada por nos enriquecer com suas analises.

    Ps- Raissa Lennon

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