sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Volta da Censura:Ria se Puder

Há uma piada sobre um genro consultado pelo agente funerário sobre como fazer o sepultamento de sua sogra: enterrada ou cremada. Respondeu o interessado:”-As duas coisas, a gente não pode facilitar..”
A resposta deste “ente querido” veio à causa da possível volta da censura aos filmes no Brasil. Antes de me deixar levar pela lembrança do tempo em que vivi a presença dessa bruxa,devo considerar que no governo Sarney (1985-1990) houve um caso de censura de filme. Pressionado pelas entidades religiosas (que nem viram a coisa), o presidente baixou uma medida provisória impedindo a exibição de “Je Vou Salue Marie”, o polêmico trabalho de Jean Luc Godard (por sinal indecifrável para os censores tradicionais).
Nos 70 eu mantinha um cineclube. Era obrigado a levar ao escritório da Policia Federal o certificado de censura, documento que chegava na primeira lata do filme (se 16mm dentro da maleta) , com um anexo datilografado especificando o lugar o dia e a hora da exibição. Era uma viagem semanal. Acabei conhecendo todos os censores. Muitos não entendiam nada do que eram obrigados a fazer. Um deles disse-me ter feito um curso de cinema em Brasília e no currículo esteve “todas as obras daquele cara que escreveu Shakespeare”(eu ainda remendei, “Hamlet”, e ele se entusiasmou: “Esse cara mesmo”).
Se alguma autoridade do grupo achava que os cortes dos filmes exigidos no documento não haviam sido feitos, pedia uma sessão especial e, se constatado o “agravante”, tratava de cancelar o lançamento na cidade. Dificilmente um censor local podia cortar película.
Era um movimento surrealista. Engraçado é que o cineclube tinha como um de seus espaços de exibições, um cinema de base militar (o “Guajará” na Base Naval). Para exibir ali não era preciso visto da censura. Mas o comandante da base pediu-me pessoalmente que “evitasse passar “O Encouraçado Potenkim”,filme que teria sido o incentivador de um levante de marinheiros, no Rio, ajudando a detonar o golpe de 1964.
Lembro do caso de um filme que foi barrado porque a cena do ator nu tinha sido mexida, ou melhor, ele, ator, se mexeu. Se estivesse nu como estatua tudo bem. Assim é que tinha ganhado liberação em Brasília.
A censura nos anos “de chumbo”,que foram mais cômicas do que as anteriores, do DIP em época do chamado “Estado Novo”(Era Vargas), murchou quando o filho de um dirigente do departamento federal especifico exibiu para amigos “O Império dos Sentidos”de Nagisa Oshima. A exibição caiu na mídia e o jeito foi deixar passar o filme japonês. Com ele morreu tudo o mais que abordaria sexo em tela grande. O que ainda demorou foi a trama política seguida da imoralidade consentida da violência . Para esses casos precisou a cremação.
Hoje, com o espasmo de uma neo-censura volto à piada do genro e vejo que algum liame, ou fio de cabelo, da megera, saiu incólume do forno e forneceu DNA mitocondrial para um clone . Tudo é possível quando se pensa em tornar os macacos aptos a pensar e falar. Aliás, a julgar pelas ameaças de volta de censura penso que já estamos no Planeta dos Macacos.

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