quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Nova Pornochanchada


Não resisti aos elogios de parentes e amigos e fui ver “Cilada.Com”, filme que emplacou a sua 5ª.semana nos dois circuitos exibidores locais e no plano geral já deve ter ultrapassado a meta de 1 milhão de espectadores.
Primeira impressão: o fascínio do “palavreado” é a formula que hoje o cinema internacional está usando para fazer rir. Lembro de um colega que ao ouvir a anedota de outro, não só sem graça como mal contada,pedia licença para acrescentar o termo “filho da puta”. Dizia que só assim atiçava o riso. Certo ou errado hoje quando se solta a língua nas telas dos cinemas a platéia, criadas no rigor de uma educação que chamava certos termos de “nomes feios” (ou chulos, ou palavrão), o riso aflora. É um prêmio pela coragem de quem fala. E se antes as legendas dos filmes estrangeiros, ainda impregnadas da moral vigente na época do Código Hays de Hollywood,omitiam o que os artistas falavam em alto som, agora traduzem corretamente no grosso das gíria nacional.
A “boca suja” dos tipos mostrados pelo roteiro mal costurado de Bruno Mazzeo é imprescindível nas situações expostas.
Segunda impressão: o gênero se sofisticou. Uma direção de arte eficiente, uma edição mais cuidada, faz a diferença do que Helena Ramos atuou nos anos 70 driblando a censura dos generais. Mas o miolo da coisa é o mesmo. Inclusive na exploração do preconceito. Ejaculação precoce é um problema médico. Pode-se chamar de doença. Mas no filme é motivo de gozação. E se o marido ansioso faz sexo de segundos ele com outra mulher parece ser mais lento. Pelo menos é o que se tira da cena em que é flagrado pela cara-metade que,por vingança, lança um vídeo da transa “oficial” num arremedo do Youtube.
Naturalmente que uma situação grotesca é arma de comédia desde o cinema mudo. Mas os verdadeiros comediantes não queriam ser realistas: assumiam o absurdo. Agora personagens e situações saem da realidade como o flagra da mulher traída que se vinga disso até que o parceiro peça penico. E contrabalançando a proposta de ridicularizar o cotidiano há um derrame de caricaturas. Mazzeo explode exageros de expressão corporal. E há tipos grotescos como o interpretado por Sérgio Loroza (o Marconha). Ícone do preconceito.
Sinceramente só achei graça umas duas vezes nos 95 minutos e projeção. Estou longe de ser puritano mas estou perto de um cinema responsável com a criatividade. “Cilada. Com” só tem de novo o uso da internet como arma do ridículo (e é em muitos programas de rede social). Podia aproveitar a deixa e fazer coisa boa. Não fez. José Alvarenga, o diretor, mesmo assim anuncia uma seqüência. Mas deixa uma semi-metáfora quando se joga o vídeo na lata do lixo. Um garoto salva a fita, mas já se fez a critica que a produção merece.

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