quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Raizes da Vida

Penso que Terrence Malick botou as suas memórias em “A Árvore da Vida”, sem dúvida o seu filme mais sincero. Focalizando uma família da classe média no Texas dos anos 1950 ele começou dimensionando esta família (ou todas as famílias). Foi buscar imagens sugestivas do começo do universo, seguindo a evolução das espécies como aquela concepção artística de Bruno Bozzeto em “Musica e Fantasia”(Allegro, non Troppo), adentrando pela vitória dos mais fortes como ensinou Darwin (a cena do animal que pisa na cabeça do outro), e chegando ao núcleo humano, colocado abaixo das arvores muito altas, querendo dizer que ali está a espécie mais completa, não necessariamente a maior em tamanho.
Dos mergulhos astronômicos, antropológicos e filosóficos ele centraliza pai, mãe e 3 filhos, dizendo logo, por imagem e som, que um deles morre. Não interessa qual. Como a dor aparece antes da explanação sobre como vivem, ou viviam, as cinco figuras. Ali se tem o pai autoritário, a mãe “dona de casa”, o filho mais velho que primeiro se insurge contra certas regras da educação, o problema do homem que não explorou devidamente o seu talento e amarga o desemprego, a perda da casa onde o trio de rapazes passou a infância, e mais em flashes do filho mais velho adulto, entre arrojos arquitetônicos, mencionando a desumanização de seus semelhantes.
Vê-se mais de uma vez pai e filhos plantando. O teor metafórico não é imposto. Vale o lado místico. Na hora de amargar a perda do emprego o pai reclama que “nunca deixou de pagar o dizimo”(como quem diz que sempre foi um homem de fé e agora Deus lhe prova). E ainda nesse patamar todos se acham numa apoteose em que os elementos se encontram numa praia (sempre o símbolo da “vida à margem” ou do porto dos primeiros seres a chegar das águas), abraçando-se e fitando o céu.
Raro o filme dedicado aos sentimentos de quem vê sem se preocupar com a racionalização do enredo. “The Tree of Life” é um poema dedicado aos sentimentos dos espectadores. Pena é que o cinema acostumou tantos a exigir uma posição de “contador de história” com a métrica que estimula um velho método de raciocínio. Essa cultura cinemágica pode levar ao enfado, à resistência ao que Malick expõe. Por isso mesmo as pessoas que se dispõe a aceitar um cinema realmente novo devem ir ver logo o filme. Não garanto o seu sucesso comercial.

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