Quando eu comecei a escrever comentários de filmes, isto por volta de 1947 num jornalzinho que eu datilografava para circular em casa, fazia questão de frisar que era opinião de um espectador, era um comentário de um fã não de um critico. E quando passei a manter coluna sobre cinema em jornal (1953/1966) dizia-me simplesmente colunista. Mesmo assim, assumi a herança de amigos que fundaram a Associação Paraense de Críticos Cinematográficos(APCC). Nunca dei muita bola para adjetivos que implicavam numa sensibilidade gélida, o avesso do meu modo de ver cinema. Se não suportava os melodramas mexicanos com os boleros que eu gostava de ouvir (e gosto) e se detestava filme-cabeça como o que começou a surgir com a “nouvelle vague” de Godard (não de Truffaut, que era um fã como eu), nem por isso deixava de observar o que me parecia bom cinema (e mau cinema). Li e fiz bastante na área. Mas nunca separei o coração da mente.
“Inquietos”(Restless/EUA,2011) de Gun Van Sant me tocou embora eu saiba que não é um bom filme. Mesma coisa “Menino de Ouro”, “A Invenção de Hugo Cabret”, “O Artista”, e alguns titulos que tenho visto recentemente em casa ou na rua. Filmes que podem ganhar prêmios e loas dos colegas jornalistas. Ou resenhas furiosas, como no caso do filme de Van Sant onde se achou mel, embora em favo de aço.
Martin Scorsese acha no seu “Hugo” –e nas entrevistas que deu- o cinema dos sonhos que lhe fez seguir a carreira de diretor na área (e preservacionista de películas). O lembrado Georges Méliès também achava. No filme 3D de Scorsese a construção de um sonho ganha forma que exalta o animo de quem vê cinema como, minha mãe já dizia:“válvula de escape”. OK não se deve fugir deste mundo. Mas igualmente não se deve mergulhar numa piscina poluída por prazer. O distanciamento é uma forma de evitar o estresse e de continuar de bem com a vida enquanto se sente vivo. Permaneço médico quando me receito isso. E prossigo comentando cinema do meu jeito. “Hugo” é o cinema que eu aprendi a gostar visto numa forma de cinema que hoje admiro (sem achar que a tecnologia é tudo – ou, ao contrário, que todos os bons filmes já foram feitos como disse Peter Bogdanovich). Imaginação é a arma da criação. Numa frase de uma sci-fi B dos anos 50: “Os desejos dos homens são suas preces, o que está ao alcance da imaginação está ao alcance da realidade”.O filme: “Caminhos das Estrelas”(Riders to the Stars/1954) de Richard Carlson & Ivan Tors(produção).
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